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21 novembro, 2013

Lobo Mau



Há uma tempestade caindo esta noite.
O vento está soprando forte. Trovões e relâmpagos estouram a cada segundo.
E eu estou sozinha na minha casa de dois andares.
Há duas entradas para a nossa casa. Uma porta da frente e uma porta dos fundos, claro. Nós também temos um sótão e um porão. Nossa casa é bem grande. Possui muitos quartos.

Mas o destino nos odeia. Papai faleceu há muito tempo atrás. E nossa primeira casa foi consumida por um incêndio.
Minha mãe e eu vivemos aqui. Mas ela ainda não voltou. Espero que ela esteja bem, porque essa tempestade está de matar.
Eu me sinto estranha nesta noite. Estou muito preocupada com a mamãe. Espero que a tempestade acabe logo.


Estou largada no sofá da sala de recreação no andar de cima, assistindo televisão. Eu pego o telefone e tento ligar para minha mãe algumas vezes, mas ela não responde. Por que ela está demorando tanto? Claro, é a tempestade.
Eu desligo a TV e desço para a sala de estar. Tento ligar para ela mais uma vez. Seu telefone chama. E chama. E chama.

Sem resposta.

Estou começando a ficar com frio. O bom é que nós temos uma lareira elétrica com controle remoto. Eu aperto o botão. Calor instantâneo. Eu sento no braço da poltrona e espero.

A tempestade está ficando pior. A chuva está mais grossa, o trovão ressoa violentamente.

Talvez eu devesse fazer alguma coisa pra comer, só pra passar o tempo. Eu vou até a cozinha e abro a geladeira. O que tem de bom? Eu devo pegar uma fatia de bolo de morango ou um pedaço de lasanha?

As luzes de repente se apagam. A luz da geladeira some, a lareira elétrica desliga. Tudo desliga. Não há nada além de escuridão.

Escuridão completa e absoluta.

A escuridão devora minha casa.

A única luz que resta é do flash ocasional de um relâmpago. E toda vez que ele explode, sinto como se ele me atingisse. Como se ele me acertasse, o pelo da minha nuca se arrepia. Me dá calafrios.

Estou assustada.

Nunca tive medo do escuro, nem de trovão ou relâmpago, ou de estar sozinha com tudo isso. Já aconteceu comigo uma vez. Eu era criança na época.

Eu só esperei. Como estou fazendo hoje. E você sabe o que aconteceu? Mamãe chegou. Ela veio até mim quando eu era uma garotinha de nove anos. Agora ela fará isso novamente. Eu sei que ela vai voltar.

Eu corro escada acima, tropeçando algumas vezes. Eu nunca sou cuidadosa. Aproveitando a luz do relâmpago que brilha lá fora, eu chego até o meu quarto para pegar a lanterna de emergência que escondi ali no armário.

Está ficando mais frio.

Eu desço para a sala de estar de novo, agora armada com uma lanterna. Ela ainda não está aqui. Por que? Eu olho para o relógio. Caramba! Já são 23h00!

Eu devia ligar pra ela outra vez? Agora estou realmente preocupada com ela. Agora estou com medo. Estou assustada por ela.

Uma vontade repentina me assola. Eu quero sair e procurar por ela.

Mas talvez ela esteja perto. Ela deve estar lá fora. Eu deveria ir vê-la.

Eu corro para a porta da frente, abro-a e vejo um céu escuro pairando sobre mim. Eu olho ao redor. Nada da mamãe. Tudo que eu vejo é um espaço vasto, preenchido com grama molhada e algumas árvores. A estrada fica à esquerda. O vento gelado me dá arrepios e o frio penetra nos meus ossos.

Um estrondo ressoa das nuvens. É tão forte que momentaneamente ilumina todo o lugar, fazendo parecer dia por uma fração de segundo. Eu vi algo durante o flash, ou alguém, parado entre as árvores.

Quem era? Mamãe?

Eu forço a visão, tentando inutilmente usar minha lanterna, como se sua luz fraca fosse me ajudar a enxergar na vasta escuridão.

Outro brilho de um relâmpago.

E a casa inteira volta à vida. A energia voltou. Parecia o natal, com todas as luzes da casa acesas.

Eu olhei entre as árvores de novo e o vi. Não era mamãe. Era outra pessoa. E ele estava correndo na minha direção, bem rápido. Ele corre como louco. Corre como se tivesse acabado de fugir da prisão.

Meu coração bate violentamente enquanto minha mente fica em branco. Ele está chegando perto. O que eu devo fazer?

Eu vejo algo brilhando em sua mão e percebo o que ele está segurando. Era uma faca, grande e mortal.

Eu grito quando recobro o controle do meu corpo. Eu bato a porta quando ele está a alguns centímetros da varanda e a tranco.

Eu não sei o que fazer em seguida.

Ele chuta a porta bem forte. O som me lembra do trovão.

Eu grito novamente.

O que eu devo fazer?

Ele chuta de novo. Eu grito mais alto.

Nada vai acontecer se eu simplesmente ficar parada aqui, esperando pra ser empalada.

Eu corro pro porão. Olho ao redor, procurando freneticamente por alguma coisa. Qualquer coisa.

Eu nem sei o que estou procurando.

Eu escuto de novo. Ele quer entrar. Está sedento por matança.

E se eu disser a ele que eu vou ligar pra polícia? Isso o assustaria? Talvez seja tarde demais. Eu começo a entrar em pânico. Eu preciso seguir o meu plano.

Eu vejo a arma perfeita. Um pé de cabra. Eu o apanho. Eu devo voltar pra sala de estar e esperar que ele arrombe a porta? Não, isso é suicídio. Eu vou só me esconder aqui. Além do mais, não é fácil derrubar aquela porta.

De repente, ele para de bater na porta. Por que ele parou? Ele desistiu? Talvez. Espere. Não. A porta dos fundos!

Eu disparo escada acima, esperando que não seja tarde demais. Eu seguro minha arma firmemente. O que quer que aconteça, estou pronta. Pelo menos é o que digo a mim mesma. Eu corro pela sala de estar e atravesso a cozinha. A chuva continua piorando e o vento domina minha audição.

E eu paro abruptamente.

Lá está ele, parado sob o batente. Como eu temi, ele veio pela porta dos fundos. Está molhado, provavelmente congelando. Sua estatura alta faz sua sombra cobrir o cômodo inteiro. Em sua mão, a faca reluzente.

Trovão e relâmpago ressoam, desligando a força novamente.

"Olá", ele diz.

"Se afaste!" eu grito, com toda a minha força. "Eu disse pra ir embora!"

Ele se lança na minha direção, de forma rápida e mortal.

Eu balanço o pé de cabra, mas o movimento é interrompido. Ele o segurou. E agora vai me esfaquear.

Eu largo o pé de cabra e me afasto dele o mais rápido que posso. Ele me alcança, agarra meu cabelo e me prende no chão.

Eu grito de dor quando ele me bate.

Acabou. Estou morta.

Mas não posso desistir. Pela minha mãe.

Eu chuto forte e tenho sorte de acertar sua virilha.

Ele geme e me xinga. Eu aproveito a oportunidade pra correr escada acima, direto pro meu quarto. Foi até engraçado, porque eu não tropecei nenhuma vez.

Eu fechei e tranquei a porta. O que eu deveria fazer agora? Eu desabo no chão, sem esperança. Eu tremo como nunca tremi antes.

Um relâmpago brilha novamente. Eu grito. Eu nunca gritei por causa de relâmpagos antes. A chuva está ficando mais fraca agora. Eu também começo a me recompor, a juntar os pedaços. Eu respiro fundo e olho ao redor. Eu ainda preciso me proteger.

Droga, eu esqueci de guardar armas mortais no meu quarto.

Então eu o ouço me chamando. Posso ouvir seus passos subindo as escadas.

"Saia, bebezinho", ele diz, com sua voz macabra. "Eu não vou te machucar".

Eu tento me manter calma. Não grite. Mantenha a cabeça fria.

Eu encontro o meu telefone. Eu não acho que ele vá me ajudar agora, mas o que eu tenho a perder? Eu disco 911. O telefone toca. Eu escuto uma resposta, mas meu telefone de repente fica mudo. Ah, ótimo.

Toc, Toc.

Ele está do lado de for a do meu quarto. Psicopata dos infernos.

"Vamos querida, eu sei que você está aí."

Eu quase vacilo.

"Garotinha, garotinha, me deixe entrar", diz o maníaco.

"Vai se foder!" eu respondo, com raiva.

Eu ouço sua fúria enquanto ele tenta derrubar a porta. Minha porta não é tão forte quanto a da frente. Ele chuta de novo.

Eu mantenho a boca fechada, mas minha mente grita de terror. O relâmpago reluz novamente. Eu o ouço chutar de novo.

Então eu ouço um som diferente. Algo com o qual sou familiar. Algo que me faria muito bem em ouvir, mas dessa vez faz meu sangue congelar.

É minha mãe. "Susan? Susan, onde você está?"

E tenho certeza que ele ouve também.

"Não! A minha mãe não! A MINHA MÃE NÃO!"

Eu o escuto correndo escada abaixo.

Corajosamente, eu abro a porta e corro atrás dele. Mas ele já está fora de vista. Estou tão assustada. E tão irada. Descer as escadas demora uma eternidade. Parece nunca acabar.

Eu chego ao final e vejo. Ele está em cima dela. Está esfaqueando ferozmente.

Esfaqueando. Esfaqueando. Esfaqueando. Esfaqueando. Esfaqueando. Esfaqueando.  

Minha mãe jaz ali, imóvel. Seu sangue inunda o chão.

Eu não consigo suportar isso. Estou tão aturdida que esqueço como sentir. Ele se vira pra mim. "Sua vez".

Eu corro pra cozinha e me viro pra ver o quão perto ele está.

Está bem perto.

Ele é tão determinado. É imparável.

E vai me pegar.

Eu corro mais rápido. Tento sair pela porta dos fundos quando sinto algo frio cortar golpear minhas costas.

Ele me cortou.

Eu pego a primeira coisa que estava ao meu alcance e arremesso contra ele. Era uma frigideira. Não surte efeito nenhum nele. Ele me pega pelo pescoço e me joga no chão.

"Não se preocupe, eu ainda não vou te matar. Vamos brincar primeiro".

Oh, não, por favor.

Ele se ajoelha diante de mim e arranca minhas roupas como um animal selvagem. Estou morta. Estou condenada.

Ele morde meu ombro. Depois minha orelha.

E ele está tentando entrar em mim.

Não há esperança.

Estou desistindo. Aceito meu destino.

Mas não.

Não.

Minha mãe não ia querer que isso acontecesse.

Eu olho ao redor freneticamente. Ali está o porta-facas.

Não tenho mais nada a perder. É isso ou morrer sem esperança.

Eu olho pra ele direto nos olhos. Eles eram verdes. Olhos verdes e furiosos.

Eu mordo seu nariz. Ele grita. Eu mordo mais forte, até sangrar. Eu agarro seu pênis e puxo com força. E então o acerto com o meu joelho. Me aproveitando do choque dele, me levanto e corro para as facas.

Ele segura meu tornozelo. Esfaqueia minha perna e eu caio.

Estou muito nervosa para sentir qualquer coisa.

Eu pulo na direção das facas e elas caem no chão. Eu pego uma aleatoriamente e enfio no olho dele. Ele rola e cai de costas, mas não solta minha perna. Eu pego outra faca e cortou seu pênis fora.

Ele grita bem alto, como uma garotinha.

Sabendo que ele não tem forças pra reagir, eu sento em cima dele.

Eu esfaqueio.

Esfaqueio. Esfaqueio. Esfaqueio. Esfaqueio. Esfaqueio.

Eu paro. Ele está morto agora.

Eu penso na minha mãe. Ela era a minha única família. Eu me lembro do que ele fez a ela.

Eu olho para o rosto dele.

O que antes era seu olho esquerdo, agora não passava de uma órbita vazia.

Eu me sinto esquisita. É a sensação mais estranha de todas.

Isso era...

Diversão.

Satisfação.

Prazer.

O relâmpago brilha novamente.

Eu pego sua faca grande e a seguro com firmeza.

Preciso de mais.

Eu esfaqueio seu corpo morto de novo. E de novo.

Esfaqueio. Esfaqueio. Esfaqueio. Esfaqueio...

 


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