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24 abril, 2020

Professor Banana



Nós estávamos estudando sobre o processo de colonização do Brasil. Eu estava lutando para ensinar a segunda série do fundamental sobre como os portugueses não deram muita atenção aos domínios brasileiros nos primeiros anos de colonização, especialmente sem fazer uma diatribe sobre os males da escravidão e faze-los absorver o conteúdo para realizar lição de casa.
Um dia, eu estava gaguejando através de um estudo sobre as primeiras descobertas de minas de ouro, quando de repente, Jimmy deixou escapar: “ Professor, você parece uma banana!” as outras crianças riram, continuando com a piada imediatamente, “Sim, uma banana grande e gorda!”, “Uma banana grande, gorda e fedorenta!”
Tudo bem, tudo bem. Eu sei que minhas roupas são um pouco engraçadas. Eu estava usando uma camiseta amarela da Ralph Lauren, uma calça brilhante cor de mostarda e sapatos marrons, o caule eu acho. “Só por hoje vocês podem me chamar de professor banana” As crianças explodiram de gargalhadas depois disso. Nós não fizemos muito pelo resto do dia, mas me perguntei se todo esse negocio de Professor Banana poderia realmente ser bom para eles.
A caminho de casa, decidi comprar algumas coisas na Riachuelo: Alguns botões amarelos, algumas gravatas amarelas e alguns pares de calças. Eu assinei o recibo como Sr. Banana; O caixa não percebeu, mas eu ri quando saí pela porta.
Descendo a avenida, tive um súbito desejo por pão de banana, então fui ao Pão de Açúcar e comprei alguns ingredientes. Imaginei que faria para mim e para meus alunos. Quando cheguei em casa, misturei os ingredientes e coloquei para assar no forno, depois assisti um episódio antigo da vila sésamo no YouTube. Eu estava pensando muito em amarelo, eu acho, mas nunca imaginei que acharia tanta graça naquele episódio, um que o Bert está na sala de aula e tenta levar sua mesa para casa só porque tinha medo que alguém senta-se no lugar dele no dia seguinte. Eu ri também com o pensamento de ter um grande pássaro amarelo na sala de aula e outros monstrinhos.
De qualquer forma, uma vez que o pão de banana estava pronto, eu cortei um grande pedaço, esguichando um pouco de chantilly por cima. Ficou bom, mas achei que ficou faltando algo. Imaginei que mudaria a receita se fizesse outro lote.
No dia seguinte, eu entrei na escola em um traje completamente amarelo; uma grava de abacaxi, calça cor pastel e até um velho par de sapatos que pintei de amarelo. Quando as crianças se sentaram, passamos a nossa saudação com uma ligeira alteração.
- Bom dia Classe!
- Bom dia Professor Banana!
Todos pegaram um pedaço do pão de banana envolto em plástico. Entre o glúten, nozes e ovos, eu provavelmente teria sido processado se alguma migalha tivesse caído no chão durante a preparação.
De alguma forma fizemos progresso sobre os primeiros portugueses que chegaram ao Brasil; Mostrei-lhes segmentos de uma animação divertida que explicava um pouco mais sobre o assunto, e eles ficaram sentados, assistindo e comendo o pão de bananas em suas mãos.
Comecei a receber e-mails dos pais alguns dias depois:
Professor Johnson,
Alice adora sua aula! Ela disse que você é o professor mais engraçado que ela já teve, continue com seu ótimo trabalho!
Atenciosamente, Sra. Macena.

Foi bom ter essa aprovação, era como se estivesse realmente fazendo algo importante. Talvez esses garotos se lembrem de algumas das coisas que eu ensinei a eles.
Então, eu comecei a fazer tudo, trazendo fitas amarelas para pendurar em toda sala de aula, escrevendo o boletim semanal com uma borda com tema de banana, tomando banho com o shampoo Skala de bomba de vitaminas de banana. Passei horas no google, só para fazer um dia de ensinamento sobre os fatos e benefícios da banana . Acontece que o nome cientifico da banana é musa, que significa a ciência universal.
Eu decidi que traria pão de banana toda segunda-feira, algo para as crianças se animarem no inicio da semana. Eu adicionei algumas pitadas de canela no segundo lote, mas o sabor ainda não parecia bom para mim. Imaginei que algumas mechas do meu cabelo que cheirava a banana poderiam resolver o problema; Então eu cortei alguns retardatários da minha nuca e os refolguei em um pouco de azeite. O sabor definitivamente melhorou um pouco depois disso.
Eu me encontrei com o Diretor na manhã seguinte. Me senti um pouco ridículo indo para a reunião em um Amarelo Neon Jerry Garcia, mas ele não parecia se importar.
- Você sabe professor, recebi muitos comentários positivos sobre toda sua iniciativa com bane nas frutas, parece que realmente funciona para manter as crianças focadas.
- Qualquer coisa para melhorar o rendimento delas, diretor.
- Ei, se está funcionando, continue. Assim, você poderá se tornar ativo na regência da escola em poucos anos.
- Eu estou feliz de poder ensinar essas crianças, senhor.
Era quase junho e os pernilongos estavam aumentando. Acontece que as cascas de banana são uma boa cura para essas picadas. Perguntei a qualquer um da sala se eles queriam se voluntariar; Jimmy tinha uma picada grande e desagradável no braço e ele passou a casa em seu braço mordido na frente da turma, e também no rosto.
- Como se sente Jimmy?
- Muito melhor, Professor Banana!
- Alguém mais quer tentar?
- Todos levantaram a mão.
Quando cheguei em casa, liguei a TV para um documentário sobre corrupção na Chiquita Brands Internatinal, uma distribuidora internacional de bananas, aparentemente eles estavam exportando cocaína para Europa em alguns de seus navios. Eles tratavam os agricultores de suas plantações como lixo. Eu pensei que seria legal dirigir um e-mail para eles e contar sobre minha iniciativa. Achei que eles gostariam de saber que o produto deles era mais do que uma fachada para o trafico. Passei a noite toda escrevendo e isso se transformou em algumas milhares de palavras sobre minhas teorias sobre a educação primaria. Eu realmente não penso muito nisso, mas enviei com o assunto do e-mail “Bananas são mais do que pseudofruto” Provavelmente a mensagem seria perdida entre todas as mensagens de clientes frustrados com a empresa de qualquer forma.
Não passou mais pela minha cabeça, até aquele fim de semana, quando recebi um telefonema da revista planeta fitness.
- Professor Johnson? Aqui é Sofia do Planeta Fitness. Acabei de receber um email da Chiquita Brands Internatinal, Você tem alguns minutos para uma entrevista?
- Sim, claro.
Eu estava na capa naquela semana. Com uma foto minha, vestido de amarelo e apontando para cima da câmera em primeiro plano com todos os alunos atrás de mim. O titulo da matéria era “Professor banana descascando os duvidosos”. A emissora local também visitou a escola para gravar um segmento.
Eu assisti minha matéria naquele domingo: Alguns minutos da minha estranha voz de professor, intercalados com entrevistas minhas e alguns alunos. Depois disso, alguns outros professores estavam começando a fazer isso também. A professora moranguinho, O professor melancia. Eu me perguntei se em outra escola alguém estava fazendo banana também.
Eu fui trabalhar no meu terceiro lote de pão de banana. Eu polvilhei a canela, refoguei alguns dos pelos do meu pescoço, mas a massa não parecia perfeita para mim. Olhei para minhas mãos, ocorreu-me que minha pele estava começando ficar um pouco amarelada – provavelmente devido a todas as bananas que eu estava comendo.
Eu me perguntei se minha pele também tinha esse sabor. Eu agarrei um alicate de unha e arranquei um pedaço fino da ponta do meu polegar, era um pouco salgado, mas definitivamente tinha um sabor da fruta. Eu decidi que iria acrescentar na massa, então peguei uma tigela e tirei a pele de todos os dez dedos, então misturei.
Naquela manhã, as pessoas realmente me reconheceram nas ruas. Todas as crianças da cidade devem ter assistido as noticias; Eu não consegui andas mais do que alguns passos sem ser interrompido para uma selfie ou um aperto de parabéns. Foi até legal, na verdade. Eu nunca pensei que usar roupas bobas faria as pessoas gostarem tanto de mim.
Eu vomitei na lata de lixo quando entrei na sala de aula. Pensei que estava comento muito potássio. Era amarelo puro; aquela mistura brilhante de bile e banana devia estar no meu estomago há dias. Eu cheguei lá cedo, só assim eu não teria que me envolver em alguma conversinha ciumenta e sarcástica com os outros professores, do tipo: “Você é algum tipo de gênio ou algo assim?”. Escrevei no quadro negro “Dia de fatos e benefícios da banana”, depois me sentei à mesa, tremendo, esperando que as crianças chegassem.
Entreguei os pães de banana como minha promessa de fidelidade. Eu me perguntei se as crianças ainda comeriam se soubessem que estavam comendo um pedaço de mim – imaginei que eu deveria manter isso em segredo por enquanto. Além disso, este era meu melhor lote feito até agora; eles não precisavam saber como foi feito.
Naquela noite, recebi outro e-mail da senhorita Macena: Boa noite, professor Johnson
Parabéns pelos quinze minutos de fama! Alice adora a ideia que seu professor é famoso! Nós realmente apreciamos todo o esforço, especialmente a culinária preparada para as crianças a cada semana. Apenas um detalhe: Alice encontrou um fio cabelo em seu pão de banana esta noite, certifique-se de manter as coisas limpas em sua casa. Nós não queremos que ela fique doente e perca a aula!
Atenciosamente. Sra. Macena.
Fui ao banheiro e me olhei no espelho. Ainda vestido com minhas roupas de trabalho, me ocorreu que eu realmente estava começando a parecer uma banana. Eu coloquei no topo do meu cabelo uma haste curvada e pontiaguda e me virei de lado, torcendo minhas costas para trás. Por um segundo, meu rosto no espelho desapareceu; Eu estava perfeitamente liso, Perfeitamente curvado, perfeitamente maduro. Eu quase chorei quando me vi mudar para uma aparência humana novamente, em vez de uma polpa deliciosa e amarelada, eu era apenas um sardento saco de sangue e ossos.
Eu tirei minhas roupas e entrei na cozinha. Só para ter certeza, peguei uma faca de cozinha e fiz uma pequena incisão no antebraço. O sangue escorreu imediatamente e o lodo vermelho escuro começou a pingar no chão. Eu fatiei o outro braço para o mesmo resultado, então me sentei, com raiva e apenas assistindo o sangue escorrer até minhas coxas e depois no chão.
Acordei algumas horas depois, tremendo, coberto de uma crosta marrom de sangue seco. Tomei um café da manhã, tomei um banho, limpei os olhos e digitei uma pergunta no Google: Os escravos portugueses comiam bananas?
Passei o fim de semana em casa, sem luz, assistindo o mesmo episodio da Vila Sésamo: Bert arrancando, puxando a carteira escolar, gritando com raiva. Você disse que era minha mesa! Você disse que era minha!
No domingo a noite, cortei meu dedo mindinho esquerdo e fritei na frigideira. Eu cortei em pequenos pedaços e misturei na massa. O pão de banana ficou mais escuro do que o habitual, um pouco salgado, mas ainda delicioso. Enrolei a mão esquerda em gaze e fui para cama.
Acordei atrasado na manha seguinte, só tinha alguns minutos para me arrumar. Coloquei uma camiseta da seleção brasileira e um par de calças amarelas, enfiei o pão de banana na mochila e saí pela porta.
As crianças olhavam para mim cautelosamente enquanto eu entrava na sala de aula. Assim que me sentei, Jimmy levantou a mão.
- Professor Banana, o que aconteceu com a sua mão?
- Ah isso, apenas um pequeno acidente. Nada para se preocupar.
Eu levantei a mão para toda a turma ver.
- Você estava brigando com um macaco?
- Ah, não Jimmy. Apenas um acidente de cozinha.
- E esses arranhões em seus braços?
Eu olhei para baixo. Meus antebraços estavam cheios de sangue, Os cortes devem ter abertos novamente de alguma forma. Eu não tomava banho há dois dias.
- Não se preocupe crianças. Deixe-me correr para o banheiro e me limpar.
Saí correndo da sala de aula para o banheiro do outro lado do corredor. Eu tirei a gaze da minha mão esquerda, então bati o punho contra o secador de mão até que cada osso se quebrou.
Eu ouvi um leve sussurro atrás de mim. Eu me levantei e virei na direção do espelho que cobria toda a parede; Era uma banana gigante, levemente machucada, mas um belo tom de amarelo, com linhas pontiagudas projetando-se do caule. Ele se virou de lado, revelando uma curvatura perfeita e me deu um grande sorriso.
Eu andei em direção a ele, cada vez mais perto, até que meu nariz estava a centímetros do espelho.
Então ele estendeu a mão e agarrou a parte superior de sua haste, esticando bruscamente para o lado. Lentamente, a casca ia sendo removida, revelando aquela incrível carne branca de dentro; irradiando, respirando ofegante, Linda.
Então eu fiz o mesmo: arrastando minhas unhas no meu couro cabeludo, esculpindo meus ossos. A polpa fresca e arejada cobria meus antebraços e pedaços de estilhaços amarelos tremulavam meus pés.
E então eu estava nu pela primeira vez, olhando meus próprios olhos, minha própria carne, ofegante, finalmente acreditando que eu era algo mais. Eu pressionei meus lábios sangrentos contra o vidro, uma brisa fresca correu para meu núcleo e então eu apaguei para nunca mais acordar.

Fonte: NoSleep

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