Você provavelmente já viu os Youtubers jogando ou algum meme no feed das mídias sociais.
Resumindo, o jogo é Survivor Multiplayer online onde até 10 jogadores são aleatoriamente designados para serem membros da tripulação ou impostores.
O objetivo, depende de qual lado do jogo você está, como tripulante, você realiza tarefas para salvar seus companheiros e impedir os impostores, enquanto o impostor vai sabotar a nave e matar o máximo de membros da tripulação o mais discretamente possível.
Tão simples quanto parece, o jogo é altamente viciante e recentemente ganhou popularidade no Youtube e na comunidade Twitch devido à quarentena da pandemia.
Espero que graças à sua popularidade, eu possa divulgar o que o jogo realmente é.
Porque embora a breve simulação seja uma diversão inofensiva, o que eu e outros seis membros astronautas enfrentamos não foi.
Por mais impossível que pareça, esta é a nossa história.
2016. Fomos informados de que ficaríamos na estação espacial por aproximadamente duas semanas, sem mais nem menos. Jansen recebeu suprimentos e pediu para estocar armazém para o vôo. Jansen e Angelo eram responsáveis pela manutenção e engenharia. Kollen, a única mulher do grupo, realizaria o trabalho de registro médicos, enquanto Hans, eu e Jonas éramos responsáveis pela navegação e comunicações.
Treinei toda minha vida para uma oportunidade como essa, então nem preciso dizer que estava mais do que animado para viajar para mais perto das estrelas.
Eu não conhecia nenhum dos outros tripulantes antes daquele dia e realmente não prestei muita atenção a nenhum deles para ser honesto. Estávamos todos aqui por motivos diferentes e isso não me preocupava desde que fizéssemos nosso trabalho.
O lançamento e a chegada à estação não foram nada especiais, nos reunimos com a antiga tripulação e começamos a repassar as tarefas que teríamos durante nossa missão.
- O cometa HP-456 está chegando para cruzar o limiar em aproximadamente três dias. Nossa principal preocupação é documentar e recuperar o máximo de dados possível, pois ainda não estão classificados. – Explicou Jansen. Ele se nomeou comandante com base em seus anos de experiência e nenhum de nós se opôs.
Depois que a velha tripulação foi embora, começamos a documentar todos os suprimentos que ainda estavam a bordo para ter certeza de que correspondia ao registro.
Juntei-me a Hans e Jansen perto da administração para verificar os registros e instrumentos. Foi aqui que percebemos nossa primeira discrepância.
- Por acaso alguém já acessou os registros antes? – Jansen perguntou enquanto revisava tudo.
- Não que eu saiba... por quê? – Eu perguntei, olhando para sua tela. Todo o banco de dados estava em branco.
- Isso é normal? – Jansen nos perguntou, mas eu honestamente não sabia. Hans apenas deu os ombros, não sendo muito capaz de falar muito bem em inglês.
- Se a missão deles já foi classificada, é normal sim. – uma voz interrompeu da porta de entrada. Kolleen estava lá nos ouvindo.
- Acho que devemos programar o sistema para fazer o mesmo por nós assim que voltarmos para casa – Decidiu Jansen, pensando um pouco nisso.
Me incomoda pensar que poderíamos facilmente ter caído em uma armadilha. Mas isso é o que acontece quando as pessoas aprendem a confiar uma nas outras.
Mais tarde naquele mesmo dia, Jonas e Jansen estavam se preparando para a primeira tarefa de manutenção pesada fora da estação.
- O uso de trajes é limitado, então precisamos nos mover rápido e ser eficientes. – Jonas me disse enquanto atitava as câmeras externas. Era meu trabalho observar os dois enquanto eles cruzavam a câmera de descompressão para os três painéis soltos. O trabalho não deveria levar mais do que quarente e cindo minutos de acordo com os cálculos de Jansen; E apenas forneceu uma janela de erro de 13%.
Apesar dos riscos, os dois homens vestiram os trajes e deixaram a relativa segurança da estação sem alarde.
Assisti-los cruzar o vazio do espaço, me lembrou de filmes antigos do jeito que os personagens pulavam alguns segundos. Fiz uma nota mental para adicionar as câmeras à lista de manutenção enquanto eu atitava o comunicador e instruía os dois a se moverem para o leste em direção aos painéis.
A estática foi à única resposta que recebi, mas pelo menos confirmou que eles me ouviam.
- Parece que eles deixaram este lugar no lixo- Disse uma voz à minha direita. Angelo sentou-se ao meu lado e soltou um suspiro antes de comentar – Acho que é isso que ganhamos por ser a equipe de limpeza.
Lembro que ia fazer uma piada mal-humorada, mas então uma explosão de barulho dos monitores chamou minha atenção.
A tela estava piscando dando tela preta enquanto eu pedia para que Jansen ou Jonas me respondessem.
- Está... vazamento.... Solicitando... Ar... Prepare... – A resposta veio em momentos esporádicos.
- Abra a exclusa de ar! Alguma coisa deu errado! – Kollen ordenou pelo interfone.
A tela ficou completamente estática depois disso, enquanto lutávamos para ajudar os dois a voltarem para dentro.
Angelo chegou primeiro, pressionando rapidamente na sequencia correta e recuando para permitir a pressurização.
O resto de nós assistiu Angelo entrar na próxima câmara para ajudar um dos dois homens dentro da estação, todos prendendo a respiração quando percebemos que ele estava voltando sozinho.
Tudo o que restou do outro astronauta foi à corda pendurada que havia sido rompida levando seu corpo em orbita para o espaço.
Uma vez lá dentro, o sobrevivente tirou o capacete e se revelou. Era Jansen.
- A pressão naquele cano quase acabou com nós dois. Descanse em paz Jon– Ele exclamou enquanto mostrava as marcas no lado esquerdo do traje onde o oxigênio havia explodido deixando uma bagunça derretida.
- Deixe-me dar uma olhada em você, venha comigo – Sugeriu Kollen. Os outros ajudaram-na a levantar Jansen em direção a enfermaria da estação.
Eu estava me concentrando no cordão de suspensão. E me perguntando por que a quebra parecia ter sido cortada precisamente e não rompida.
Depois de confirmar que Jansen não havia sofrido ferimentos graves, Kolleen recomendou que preparássemos uma refeição e também fizemos uma breve oração em nome do Jonas.
Embora nenhum de nós realmente o conhecesse, parecia a coisa apropriada a fazer.
Então, Angelo e eu preparamos uma pequena refeição e nos reunimos na cafeteria cerca de meia hora depois. Mesmo em meio a baixa gravidade, Kolleen conseguiu fazer um brinde ao nosso ex-colega falecido e comentou.
- Este incidente só nos mostra como todos nós precisamos ser diligentes nenhum de nos está a salvo dos erros que cometemos ou qualquer coisa que possa estar em mau funcionamento a bordo desta estação. Precisamos cuidar um do outro como uma familia.
Foi um bom aviso. O resto de nós comemorou e bebeu, usando a sala pressurizada para tirar nossos ternos e desfrutar da refeição. A torta de carne inglês, um clássico que eu nunca gostei muito, era a comida que Hans não perdeu tempo para preparar, cantando animadamente em sua própria língua enquanto comia.
- Isso parece bom, vou experimentar um pouco disso – Disse Jansen com uma risada enquanto arrancava um pouco do assado. Ele estava no meio do caminho para mastigar quando Kollen agarrou sua mão. Então percebemos que Hans não estava se agitando por causa da refeição. Era porque ele estava sufocando.
- Puta merda! – Kollen disse enquanto contornava a sala para verificar suas vias respiratórias. – Me passe aquela seringa, rápido! – Ela me ordenou. Eu estava observando enquanto os olhos de Hans saltaram lentamente de sua cabeça e seu rosto começou a inchar. Seria uma questão de segundos para que ele perdesse todo o oxigênio e quem sabe o que a pressurização faria.
Obedeci e passei a agulha para ela, e observei enquanto ela segurava o homem que lutava por sua vida;. ela insistia para que ele permanecesse calmo. Mais fácil falar do que fazer, visto que ele sabia o que estava acontecendo com ele.
Usando a agulha, ela bateu a ponta afiada em seu pulmão para tentar abrir caminho alternativo para o ar entrar. Mas o resto de nós poderia dizer que era tarde demais. Ela estava apenas atrasando o inevitável.
Os suspiros de Hans era o único som na sala, exceto pelos gritos de Kollen para que ele continuasse vivo. Mas foi apenas uma tentativa vazia.
Momentos depois, a sala ficou em silencio novamente e todos nós estávamos nos sentindo muito desconfortáveis.
- A comida... estava envenenada – percebeu Jansen. Nenhum de nós reconheceu, mas sabíamos que ele estava certo. Alguém na equipe estava tentando matar os outros.
Naquela noite fiz o possível para dormir um pouco, apesar da tensão que permanecia entre nossa equipe. Fazia apenas um dia e 2 de nós já havia morrido. E é claro que eu sabia que o mesmo pânico que eu sentia provavelmente estava invadindo o coração dos outros. Em nossa missão, havia um impostor.
Eu observei minha porta enquanto fingia dormir, meio preocupado que eu fosse o próximo. E por um bom motivo. No meio da noite, ouvi um barulho no corredor e fui investigar.
As luzes estavam fracas, mas pude distinguir o cabelo ruivo característico de Kollen enquanto a seguia lentamente em direção à parte traseira da estação. Seria ela que estava sabotando para eliminar os membros restantes da tripulação? Fazia certo sentido, dada sua experiência em medicina. Mas com qual proposito?
Eu mantive minha própria pequena ferramenta em minha mão quando entrei no armazém, preparado para o pior.
Em vez disso, fiquei surpreso ao descobrir que Kollen e Angelo estavam lá esperando por mim.
- Feche a porta – Kollen ordenou.
Nós nos amontoamos perto da despensa de lixo eu disse:
- Você pretendia que eu a seguisse?
- HNão temos tempora pra isso, há um impostor entre nós – Disse a doutora com franqueza. Angelo balançou a cabeça severamente e eu sabia o que os dois estavam pensando.
- Jansen? – Eu sussurrei.
- Pode ter sido uma coincidência que o acidente aconteceu quando ele estava com Jonas... mas o envenenamento de comida não tem como. Ele é o único com acesso a dispensa. – Ela respondeu com firmeza.
Com as comunicações superficiais, estamos praticamente por conta própria aqui. – Comentou Angelo.
Mais duas semanas era uma sentença de morte garantida, eu percebi.
- O que você sugere? – Eu perguntei. Era obvio que não precisávamos debater o assunto. Achei que o interrogatório permitiria que Jansen confessasse e então poderíamos mantê-lo amarrado e preso. Mas nossa médica tinha outros planos.
- Precisamos elimina-lo antes que ele machuque o resto de nós. – Ela decidiu.
A sala ficou em silencio.
- Você quer dizer, mata-lo? – eu percebi severamente.
- Você quer acabar como Jonas ou Hans? – Ela perguntou.
Eu não tinha argumentos para isso. Então, em vez disso, concordamos que agora era a hora de agir.
Não consigo descrever corretamente a sensação que você tem quando percebe que precisa que matar uma pessoa, mesmo que ela seja sua inimiga. Isso fez meu estômago embrulhar. Honestamente, eu não tinha certeza se conseguiria continuar com isso. Mas Kolleen insistiu que precisávamos nos mover como uma unidade, para evitar que Jansen causasse mais danos.
Andamos juntos e silenciosamente pela estação até seus aposentos. Imaginei que os outros provavelmente também estavam pensando no que estava prestes a acontecer. Mas nenhum de nós estava realmente pronto.
Kolleen entrou primeiro, movendo-se para o lado esquerdo da forma adormecida de Jansen enquanto gesticulava para que Angelo pegasse sua faca. As mãos do homem tremiam. Eu brevemente me perguntei com o que Jansen poderia estar sonhando. Eu esperava que fosse bom em comparação com a morte violenta que ele enfrentou.
Eu rapidamente segurei seus braços e Kolleen segurou suas pernas. Jansen só teve tempo de acordar e gritar. Angelo o estrangulou e passou a faca profundamente contra seu pescoço. Por uma fração de segundo, tive a certeza de que ele não seria capaz de fazer isso. Quando a lâmina cruzou sua artéria principal, esperei ver a raiva ou ressentimento em seus olhos. Mas tudo que vi foi o medo. Ele sufocou com seu próprio sangue enquanto suas pernas e braços ficaram moles. Assim que ele foi confirmado morto por Kollen, atiramos seu corpo para fora da câmara de descompressão e avaliamos o que havia sobrado.
- Precisamos ver se podemos consertar esses sistemas para que possamos entrar em
contato com o HQ – ela instruiu. Não ia ser um trabalho fácil, mas agora que o impostor se foi, pensei que teríamos um mar de rosas.
Em retrospecto, nunca deveria ter acreditado que estávamos seguros ou que Jensen trabalhava sozinho.
Na semana seguinte, assumi uma rotina e baixei a guarda. Nunca me ocorreu que Kolleen ou Angelo também pudessem ser uma ameaça. Mas após 10 dias de missão, tornou-se óbvio novamente que algo estava errado.
- Você desligou as câmeras na noite passada? – Eu perguntei enquanto verificava os sistemas. Eles não tinham agido de forma estranha desde que Jensen partiu, e agora, de repente, eu não conseguia ver o lado leste da estação. Isso me deixou inquieto novamente.
- Eu estava dormindo, então isso é duvidoso – Comentou Kolleen enquanto verificava por ela mesmo.
- Essa maldita estação precisa ser revisada – ela murmurou. Nossa tarefa naquele foi a despressurização da ala oeste. Insisti que todos fossem juntos.
Quando começamos a vedar a primeira câmara, Angelo percebeu minha inquietação e comentou sobre isso.
- Está tudo bem?
- Continue andando – insisti enquanto repassava na minha cabeça os eventos que levaram à morte de Jansen. Pequenos detalhes de como isso ocorreu passou pelo meu subconsciente. Como Kollen estava convenientemente no centro de comando quando as câmeras foram desligadas antes. Como ela sabia que a comida era venenosa. Mas Jansen estava prestes a comer também quando ela o interrompeu. Porque ele faria isso se estivesse tentando eliminar o resto de nós?
- Quando Kolleen abordou você pela primeira vez sobre o impostor, ela explicou como sabia que era Jansen? – Eu perguntei a ele enquanto corríamos para próxima sala. A medica não estava muito muito atrás de nós. Era agora ou nunca.
- Ela me disse que percebeu que o cordão de oxigênio do Jonas havia sido rompido e foi assim que ela soube... por quê?
Imediatamente fechei a câmara para Kollen e murmurei:
- Matamos a pessoa errada.
Quando a medica chegou a porta lacrada, seus olhos se arregalaram de medo e tentou gritar para chamar nossa atenção.
Angelo parecia em pânico enquanto eu lutava para explicar o que sabia.
- Ela é a única pessoa que parece estar um passo à frente do resto de nós. Como se ela soubesse o tempo todo o que esperar. Você pode chamar isso de coincidência? – Eu perguntei.
- Você está sendo paranoico – argumentou ele.
O alarme me disse que demoraria menos de um minuto para a câmara que Kolleen estava ficasse sem oxigênio e decidi testar essa teoria verificando os dados novamente.
- Olhe aqui. Os registros mostram que Kollen foi a última a reiniciar o sistema. Como isso pode ser possível? A menos que seja ela quem está tentando sabotar essa missão. - Eu disse a ele.
Angelo parecia pálido como um fantasma enquanto a contagem regressiva continuava. Esperei para ver ele salvaria a medica. Isso me diria se ele também estava envolvido neste esquema maluco.
Então, para minha surpresa, Kollen fez um ultimo esforço para se salvar.
“Sequencia de auto destruição iniciada. 3 minutos restantes” – o sistema de comunicação informou.
Olhei para a câmara selada e vi uma expressão de desafio em seu rosto. Ela ia matar todos nós.
- Rápido – Gritei correndo em direção à próxima escada para alcançar a cápsula de escape. Desta vez, Angelo não discutiu comigo.
Chegamos a pequena cápsula em menos de um minuto.
- Que diabos ela está pensando? – Angelo murmurou enquanto nos entravamos na capsula. No momento em que a pequena estação explodisse também significaria que estaríamos voando para a superfície. Eu preparei primeiro a detonação.
Segundos depois, estávamos voando em direção à atmosfera. Eu agarrei meu peito quando senti o calor e a gravidade nos atingirem e olhei para Angelo. Ele ainda parecia tão paranoico quanto antes.
- Você... Você a matou. – ele disse.
- Era ela ou toda a missão já estava comprometida desde o inicio. – argumentei.
- Não foi a melhor escolha – ele retrucou quando nossa cápsula de fuga balançou.
- Não tinha como saber – Eu argumentei em meio ao barulho agudo.
Angelo balançou a cabeça, não convencido com minhas palavras.
- Você estava lá quando Jonas saiu para consertar o casco. E você nem se serviu da comida quando Hans foi envenenado. Você jogou manipulou todos nós o tempo todo... – meu companheiro de equipe sussurrou.
- Não. Você está enganado. Não diga isso. – Eu disse a ele.
Momentos depois, nossa capsula caiu no meio do Oceano pacifico.
Quando a ajuda chegou, eu estava coberto de sangue. Os últimos momentos dessa queda são conhecidos apenas por mim e pelo homem morto.
Mas fui que que saí vivo de lá.
Eu mantive meu resumo para HQ curto e direto. Nossa missão foi um fracasso, a coisa toda foi classificada e fui dispensado do serviço.
É assim que minha história termina, com meus outros cinco membros da tripulação mortos e nenhuma prova da experiência, exceto minha própria palavra. E eu estava bem em aceitar isso, estava.
Até eu ver o jogo. Ele apareceu no meu feed em 2018 e no inicio prestei pouca atenção. Então, quando vi meu filho jogando uma partida no verão passado, não pude deixar de notar as semelhanças.
Isso tremia profundamente. Por que, você pode perguntar. A resposta é simples. Até agora não falei com ninguém sobre a sabotagem que sobrevivi a bordo daquela estação.
Então, como eles sabiam? Tenho lutado para encontrar uma resposta satisfatória para isso. E tudo que posso ter certeza é de uma coisa.
O que quer que tenha acontecido a bordo daquela pequena estação, não acabou. Ainda existe um impostor em algum lugar entre nós.
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