Blogger Panda

05 outubro, 2020

BORRASCA I



I.


Esta é uma longa história, mas é uma que você nunca ouviu antes. Esta história é sobre um lugar que existe na montanha; um lugar onde coisas ruins acontecem. E você pode pensar que sabe sobre coisas ruins, você pode achar que tem tudo sob controle, mas não tem. Porque a verdade é pior do que monstros ou homens.


No começo fiquei chateado quando me disseram que estávamos de mudança para uma pequena cidade em Ozarks. Lembro-me de olhar para meu prato de jantar enquanto ouvia minha irmã lançando uma birra temperamental de uma estudante de 14 anos. Ela chorou, implorou e então amaldiçoou meus pais. Ela jogou uma tigela no pai e disse que tudo era culpa dele. Mamãe disse a Whitney para se acalmar, mas ela saiu correndo, batendo em todas as portas de casa até o caminho do seu quarto.


Eu secretamente culpei meu também. Eu também ouvia conversas, meu pai fizera algo de errado, algo muito ruim, por isso o departamento do xerife transferiu meu pai para um condado pouco fora do caminho para salvar seu emprego. Meus pais não queriam que eu soubesse disso, mas eu sabia.


Eu tinha nove anos, então não demorei muito para me acostumar com a ideia de uma mudança; Foi como uma aventura. Casa Nova! Escola Nova! Novos amigos! Whitney claro, sentia o oposto. Mudar para uma nova escola na idade dela é difícil, mas afastar-se de seu namorado seria mais difícil ainda. Enquanto o resto de nós arrumávamos nossas coisas e nos despedíamos, Whitney ficou de mau humor, chorou, ameaçou fugir de casa. Mas um mês depois, quando chegamos à nossa nova casa em Drisking, em Missouri, ela estava sentada ao meu lado, falando maliciosamente em seu telefone.


Felizmente, nós nos mudamos durante o verão e eu tive o tempo livre para explorar a cidade. Quando papai começou seu novo emprego no escritório do xerife, mamãe nos levou pela cidade comentando isso e aquilo. A cidade era muito, muito menor que Saint Louis, mas também muito mais agradável. Não havia áreas “ruins” e toda a cidade parecia algo que você veria em um cartão postal. Drisking foi construído em um vale de montanha cercado por florestas saudáveis com trilhas para caminhadas e lagos cristalinos. Eu tinha nove anos, era verão e isso era o paraíso.


Nós estávamos morando em Drisking há uma semana mais ou menos, quando nossos vizinhos da porta ao lado vieram se apresentar: Sr. E Sra. Landy e seu filho de 10 anos, Kyle. Enquanto nossos pais conversavam e bebiam, observei o filho magro e ruivo dos Landy pendurado na porta, olhando timidamente para meu Playstation 2 na sala de estar.


- Uh, Você joga? – Eu perguntei.


Ele encolheu os ombros - Na verdade não.


- Você quer? Acabei de ganhar o Tekken 4.


- Hum... – Kyle olhou para sua mãe, que acabará de encher seu terceiro copo de whisky. – okay, pode ser.


Naquela tarde, com a facilidade e simplicidade da nossa idade, Kyle e eu nos tornamos melhores amigos. Passamos as manhãs frescas de verão do lado de fora explorando Ozarks e as tarde quentes na minha sala de estar jogando Playstation 2. Ele me apresentou a única outra criança da vizinhança da nossa idade: Uma garota magra e quieta chamada Kimber Destaro. Ela era tímida, mas simpática e sempre pronta para tudo. Kimber nos acompanhou tão bem que ela rapidamente se tornou a terceira roda em nosso triciclo.


Com meu pai no trabalho o tempo todo, minha mãe consumiu novas amizades e minha irmã ficava trancada em seu quarto o dia todo, o verão era nosso para aproveitar e fazer levar o que fizermos. Kyle e Kimber me mostraram onde estava as melhores trilhas para caminhada, quais lagos era os melhores e mais acessíveis de bicicletas e onde ficavam as melhores lojas da cidade. Quando o primeiro dia de aula chegou, eu já me sentia em casa.


No ultimo sábado antes do inicio das aulas, Kyle e Kimber me disseram que iam me levar a algum lugar especial, em algum lugar que ainda não tínhamos ido – A Árvore Tripla.


- O que é uma ‘Arvore tripla’? – Perguntei.


- É uma casa na arvore totalmente incrível, totalmente enorme na floresta – Kyle disse animadamente.


- Perfeito! Então vamos lá pessoal, se tem uma casa na arvore vocês já deveriam ter me mostrado antes!


- Uhm... Nós não podemos – Kyle balançou a cabeça – Existe uma cerimonia para os novatos e tudo mais.

Kimber concordou ansiosamente, seus cachos laranja escuros saltavam de seus ombros minúsculos – Sim, é verdade, Sam. Se você entrar na casa da arvore sem a devida cerimonia, você desaparecerá e então morrerá.

Meu rosto caiu. Agora eu sabia que eles estava tirando sarro de mim. – Isso é mentira! Vocês estão tentando me assustar.


- Não, nós não estamos! – Kimber insistiu.


- É verdade, e vamos te mostrar! Nós só temos que primeiro pegar uma faca para a cerimonia e já vamos.


- O que? Porque você precisa de uma faca? É uma cerimonia de sangue? – Eu sussurrei.


- De jeito nenhum! – Kimber prometeu – Você tem repetir algumas palavras e esculpir seu nome na Árvore tripla.


- Isso mesmo, demora só um minuto – Kyle corcordou.


- E é uma casa na árvore muito legal? – Eu perguntei.


- Oh, com certeza! – Prometeu Kyle.


- Certo, eu acho que vou fazer isso então.


Kyle insistiu em usar a mesma faca que ele usou durante sua própria cerimonia,  mas pagamos um preço para conseguir isso. A sra. Landy por acaso estava em casa com seu filho mais novo, Parker, e apesar das muitas objeções de Kyle, sua mãe insistiu que ele levasse seu irmão de seis anos com ele.


-Mãe, nós estamos indo para a casa da árvore, é só para crianças mais velhas. Parker não pode ir!


- Eu não me importo nem que você vai ver uma maratona de filmes do exorcista, você vai levar seu irmão com você. Eu preciso de descanso, Kyle, você não consegue entender isso? E tenho certeza que seus amigos não se importam. - Ela mostrou a Kimber e a mim um olhar desafiador. – Não é crianças?


- Não, de forma alguma – Kimber disse e eu acenei de acordo.


Kyle soltou um suspiro alto e dramático e chamou por seu irmão – Parker, coloque seus sapatos, nós vamos passear um pouco!


Eu já tinha visto o Parker várias vezes antes e descobri que ele era bem diferente de seu irmão mais velho, tanto em aparência como em disposição.  Onde Kyle era uma bola de fogo selvagem e empolgante, de cabelo combinando, achei Parker era um menino ansioso e inquieto, com olhos pequenos e cabelos castanhos escuros.


Nós seguimos com nossas bicicletas e fizemos nosso caminho por uma trilha de caminhada menos conhecido por alguns quilômetros de distancia. Eu perguntei antes para onde as trilhas levavam quando passamos várias vezes antes e Kyle tinha me respondido abaixo do esperado dizendo que não era nada de interessante.


Nós tivemos que parar para continuar a pé e encostamos nossas bicicletas contra um poste de madeira que dizia “Trilha da Orla Leste de Minério de Prescott”.


- Porque a maioria das trilhas daqui é chamada de Prescott? – Eu perguntei – É montanha Prescott ou algo assim?


Kimber riu – Não, é por causa do Prescott. Você sabe, a família que mora na mansão Fairmont. Prescott e seu filho Jimmy são donos da metade dos negócios da cidade.


- Mais da metade – Acrescentou Kyle.


- Quais negócios? Ele é dono do fliperama game stop? – A única loja Drisking que eu realmente me importava.


- Eu não sei – Kyle colocou uma corrente em uma das quatro bicicletas e ajustou o cadeado com uma combinação numérica – Mas como a loja de ferragens, a farmácia, o mercado central e o jornal da cidade.


- Foram eles que fundaram a cidade? – Eu perguntei.


- Nah, Foi a mineração que começou a cidade, eu acho que eles...


- Eu quero para casa. – Parker estava tão quieto que eu tinha esquecido completamente que ele estava lá.


- Você não pode ir pra casa! – Kyle revirou os olhos – Mamãe disse que u tinha que trazer você. Agora vamos lá, é apenas uma caminhada de dois quilometros.


- Eu quero levar minha bicicleta. – Respondeu Parker.


- Péssima ideia, o caminho agora não tem trilha para pedalar.


- Então eu não vou, ficarei aqui vigiando as bikes.


- Não seja tão chato.


- Eu não sou!


- Kyle, seja legal! – Kimber assobiou – Ele tem apenas cinco anos.


- Eu tenho seis anos! – Parker objetou.


- Me desculpe, seis. Você tem seis. Kimber sorriu para ele.


- Tudo bem, ele pode segurar sua mão se ele quiser. Mas ele tem que vir. - Kyle se virou e começou a trilha.


O rosto de Parker caiu em uma expressão indignada, mas quando a charmosa Kimber estendeu a mão e balançou os dedos para ele, ele a pegou.


Kyle estava certo, não era uma longa caminhada, apenas 800 metros descendo a trilho e depois outra caminhada de meia milha em um trilha bem larga na montanha. Foi uma subida íngreme e quando chegamos a casa da arvore eu estava sem folego.


- O que você acha? – Kyle perguntou animadamente.


- É... – Eu estudei a árvore enquanto recuperava o folego. – É muito legal. – Sorri e realmente era. Eles não mentiram, a casa da árvore era a maior que eu já vi. Tinha vários quartos e havia cortinas reais nas janelas. Uma placa acima da porta dizia “Fortaleza Ambercot” e uma escada de corda pendia abaixo do limiar, faltando várias tábuas.


- Eu vou primeiro! – Gritou Parker, mas Kimber segurou seu braço.


- Primeiro você tem que fazer a cerimonia ou você vai desaparecer – Ela lembrou ele.


- Isso não seria ruim pra mim – Seu irmão Kyle resmungou.


Eu estava ansioso para entrar naquela fortaleza.


- Me dê a faca – Eu estendi minha mão. Kyle sorriu e tirou o canivete do bolso.


- Tem algum espaço na parte de trás para você esculpir seu nome.


Eu abri a faca e caminhei ao redor da árvore procurando por algum lugar vazio. Tinha tantos nomes na árvore que tive que espremer e olhar bem de perto, já que não conseguia escrever no alto. Vi as esculturas de Kyle e Kimber na árvore e finalmente encontrei um lugar que gostei perto do último. Mordi minha língua e esculpi Sam W. em um pedaço de casca em branco debaixo de alguém chamado Paul S. Parker foi em seguida, mas teve tantos problemas com a faca que Kyle teve que fazer por ele.


- Tudo bem, vamos lá! Eu corri para a escada de corda.


- Espere! – Kyle gritou – Você tem que dizer as palavras primeiro.


- Oh sim, Certo, e quais são?


Kimber então recitou:


- Debaixo da árvore tripla existe um homem que espera por mim e eu devo ir ou então ficar do mesmo jeito que será o destino de todos.


- Uau, isso é assustador – Eu disse – O que significa?


Kimber encolheu os ombros. – Ninguém sabe, é apenas uma tradição.


- Certo, você poder repetir mais uma vez, mais devagar para eu memorizar?


Depois que Parker e eu recitamos o poema, estávamos prontos para ir. Eu subi a escada de corda em primeiro e avaliei o ambiente. A casa da árvore estava mais ou menos vazia, apenas um tapete sujo aqui e ali e um pouco de lixo: velhas latas de refrigerantes, latas de cerveja e embalagens de Fast Food.


Eu fui de quarto em quarto, havia quatro no total, e não encontrei nada de real interesse, até ver o ultimo. Um colchão velho estava no canto e pilhas de roupas bolorentas e rasgadas espalhavam-se pelo chão.


Algum mendigo mora aqui? – Eu perguntei.


- Não, este quarto é assim desde que me lembro – Disse Kyle da porta atrás de  mim.


- Cheira nojento – Eu disse.


Kimber chegou ao limiar, mas se recusou a ir mais longe. – Não é o cheiro que me assusta, é isto. – Ela apontou para o teto e eu levantei meus olhos para ler o que estava escrito lá:


“Caminho para o portão do inferno – Marcador da primeira milha”


- O que isso significa? – Eu perguntei.


- Devem ter sido os garotos mais velhos sendo idiotas – disse Kyle – Vamos lá, eu vou te mostrar a melhor parte da cada da árvore.


Nós voltamos para o primeiro quarto e Parker olhou para nós e sorriu, apontando para o que ele esculpiu no desajeitadamente no chão de madeira.


- Peido – Kyle leu – Isso hilário Parker – Ele revirou os olhos, mas seu irmãozinho não pegou o sarcasmo e sorriu com orgulho.


Kimber sentou no chão ao lado de Parker e eu me sentei do outro lado. Kyle pegou a faca de seu irmão e então atravessou a sala e enfiou a lamina entre duas tábuas da parede arborizada. Kyle tirou algo e empurrou a prancha de volta até que ela estivesse nivelada com as outras.


- Dê uma olhada – Ele se virou e orgulhosamente levantou duas latas de cervejas Budweiser.


- Whoa! – Eu disse.


- Eca, cerveja quente? Isso é nojento. Como você sabia que estava lá? – Kimber perguntou.


- Phil Saunders me disse.


- Vamos beber? – Perguntei.


- Claro que sim, vamos beber!


Kyle veio e sentou-se em nosso circulo, abriu a primeira cerveja e ofereceu a Kimber. Ela olhou como se ele estivesse tentando lhe entregar uma frauda suja.


- Vamos Kimberzinha.


- Não me chame assim! –Ela gritou para ele e relutantemente tomou a cerveja aberta. Ela cheirou e fez uma careta, depois beliscou o nariz e tomou um pequeno gole. Kimber estremeceu – Urgh, isso é pior do que eu imaginava.


- Eu não vou beber! Vou contar pra mamãe! _ Parker disse rapidamente quando a cerveja passou na frente dele para mim.


- Você não vai beber mesmo! – Prometeu Kyle – E você não vai contar merda nenhuma para mamãe!


Forcei minha melhor expressão de pôquer face enquanto tomava um gole de cerveja quente antes que eu tivesse a chance de sentir o cheiro. Foi uma péssima decisão quando eu miseravelmente derramei o liquido amarelo por toda minha camisa.


- Aww merda, agora eu vou cheirar a cerveja.


Nós passamos a próxima hora e meia bebendo as duas latas de Budweiser e depois de algum tempo o gosto ficou tolerável. Eu não sabia se estava me tornando homem ou se estava embriagado. Eu esperava que fosse a primeira opção. Quando a última gota de cerveja foi consumida, passamos 20 minutos tentando determinar se estávamos bêbados. Kyle nos assegurou que ele estava perdido enquanto Kimber não tinha certeza. Eu não achei que estava, mas falhei em todos os nossos testes de bêbados.


Kimber estava no meio da recitação do alfabeto de trás para frente, quando um ranger alto e metálico perfurou subitamente o ar calmo da montanha como um tiro. Kimber parou de falar e passamos alguns minutos olhando um para o outro, esperando o barulho acabar. Parker se enrolou em Kimber e colocou as mãos sobre as orelhas. Depois do que pareceram dez minutos inteiros, o som terminou tão repentinamente quanto começará.


- O que foi isso? – Perguntei, Parker murmurou algo destro do suéter de Kimber.


- Vocês sabem o que foi isso? – Eu tentei novamente.


Kimber olhou para os pés enquanto cruzava e descruzava,


- Bem...


- Não é nada! – Kyle finalmente respondeu – Nó ouvimos isso às vezes na cidade; não é grande coisa. Só é mais alto aqui em cima.


- Mas o que está fazendo esse som?


- Borrasca – Kimber sussurrou sem tirar os olhos de seus pés.


- Borrasca? Quem é esse? – eu perguntei.


- Não é quem e sim onde,- Respondeu Kyle – Borrasca é um lugar.


- Outra cidade?


- Não, é apenas um lugar na floresta.


- Oh.


- Coisas estranhas acontecem lá, coisas ruins – Kimber disse mais para si mesma do que mim.


- Coisas estranhas? Como oque?


- Coisas ruins. – Repetiu Kimber.


- É verdade, nunca tente encontrar cara – disse Kyle atrás de mim – Ou coisas ruins vão acontecer com você também.


- Mas como? Que coisas ruins? – Eu me virei. Kyle deu os ombros e Kimber se levantou e caminhou até a escada de corda.


- É melhor a gente ir. Eu tenho que voltar em casa para minha mãe. – Disse ela.


Descemos a escada uma a uma e começamos a caminhada de volta para as bicicletas em um silencio desconhecido. Eu estava morrendo de curiosidade sobre Borrasca, mas não conseguia decidir se devia perguntar sobre isso.


- Então, quem mora lá?


- Lá onde? – perguntou Kyle.


- Borrasca.


- Os homens esfolados – Respondeu Parker.


- Pffft – Kyle riu – Apenas crianças acreditam nisso.


- Como são esses homens esfolados? Como se a camada de pele deles tivessem sido removidas? – Eu perguntei.


- Sim, os músculos vermelhos estão sem pele. A maioria das crianças deixa de acreditar nisso quando temos dois dígitos em nossa idade. – Disse Kyle.


Eu olhei de volta par Kimber que ainda tinha nove anos como eu, mas ela estava olhando para a trilha, nos ignorando. Aquele parecia ser o fim da conversa e quando chegamos a nossas bikes, o constrangimento desapareceu e estávamos rindo, tentando decidir se estávamos bêbados demais para voltar de bicicleta para casa.


A escola começou dois dias depois e eu me esqueci completamente de Borrasca. Quando meu pai parou no meio-fio para me deixar naquela manhã, ele trancou as portas antes que eu pudesse sair,


- Não tão rápido – Ele riu – Como seu pai, eu tenho o privilegio de lhe dar um abraço e desejar a você um bom primeiro dia de aula.


- Mas pai, eu tenho que encontrar Kyle antes do primeiro sinal!


- E você vai, mas me dê uma braço primeiro, daqui alguns anos, você estará dirigindo para escola, deixe-me ser seu pai enquanto ainda posso.


- Tudo bem – Eu disse, me inclinei para dar um abraço rápido no meu pai.


- Obrigado filho. Agora vai encontrar seu amigo. Sua mãe estará esperando aqui na saída ás 3:40.


- Eu sei pai. Por que não posso ir de ônibus como a Whitney?


- Quando você completar 12 anos você vai poder pegar o ônibus – Ele sorriu e abriu as portas. – Até lá, eu vou trazê-lo para escola todos os dias. Se você achar que pode ser mais legal, até posso te trazer na parte de trás da viatura, como se fosse um delinquente.


- Papai...não. – Eu abri a porta do carro antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa e corri enquanto ele ria atrás de mim.


Kyle já estava me esperando no mastro da bandeira e também encontrou Kimber.


- Cara, você quase perdeu o sinal – Ele gritou quando me viu.


- Eu sei, foi mal.


- Em que sala você caiu? – Kimber perguntou. Ela estava vestindo um suéter vermelho e calça leg com estampas de sapos. Seu cabelo laranja encaracolado estava escovado em cacho e seus lábios rosados e brilhantes. Ela nunca me pareceu mais bonita e fiquei surpreso ao perceber que eu nunca antes tinha visto Kimber como uma menina.


- Ah. Classe do professor  Diomont.


- Eu também! – Ela disse alegremente.


- Que sorte – Kyle zombou – Eu estou na classe da Sra. Verdyl. Só tem duas classes da quarta série e justo eu cai separado de vocês.


Kimber fez uma careta – Minha mãe estudou na sala dela quando era criança.


- O que há de errado com ela? O que ela disse?


- Só que é rigorosa e dá muita lição de casa nos finais de semana.


- Nos finais de semana? Que porra!


-ah, desculpe-me senhor Landy – Eu imediatamente reconheci o homem alto que apareceu de repente atrás de Kyle de cara branca.


- Sinto muito senhor. Eu quis dizer “Droga”.


Kimber riu.


- Eu tenho certeza que você quis – ele assentiu.


- Olá Xerife Clery – Mesmo que eu só o encontrasse algumas vezes, eu gostava do chefe do meu pai e ele gostava de mim.


- Bem, Olá Sammy, você esta animado para seu primeiro dia? – Xerife Clery cruzou os braços na frente dele e ampliou sua postura imponentemente, mas deu um largo sorriso.


- Sim senhor, - Eu disse. E então acrescentei lamentavelmente: - O que você está fazendo aqui?


- Eu vou dar uma palestra para o quinto e sexto ano sobre segurança no caminho até a escola.


- Sim, ele vem aqui todos os anos – Kyle murmurou.


- Legal – Eu sorri.


O xerife Clery acenou para mim e então se virou e foi embora. Olhei ao redor, confuso.


- Onde está Kimber?


- Ela já entrou pra sala. Ela é irritantemente pontual para tudo.  – Assim que ele disse isso o sinal tocou. Nós dois subimos correndo as escadas e entramos.


Eu entrei na sala de aula e vi que Kimber tinha reservado um lugar ao lado dela na parte de trás da sala. O Sr. Diamond, um homem baixo e gordinho, com cerca de 40 anos acenou para mim quando entrei.


- Sr. Walker, presumo.


- Hum, sim, sou eu. – Eu murmurei enquanto corria até a mesa ao lado de Kimber.


- Bem vindo a Escola Elementar de Drisking. E para o resto de vocês, bem vindos de volta.


Kimber me apresentou a outras crianças da turma durante toda a manhã. A maioria deles eram bons, se não impressionasse. Eles disseram seus nomes e perguntaram de onde eu era e as conversas geralmente terminavam com um “ok” não impressionado.


Um grupo de meninas que se sentou na parte da frente, olhou para nós durante toda a manhã e deu uma risadinha. Perguntei a Kimber quem elas eram e ela apenas deu os ombros. Durante nosso segundo intervalo, elas vieram conversar comigo.


- Você é amigo da Kimber Destaro? – Uma garota alta de cabelos escuros me perguntou.


- Sim – eu respondi e olhei para Kimber. Ela estava me observando com os olhos preocupados.


- Você é parente dela?


- Não.


- Eu não penso assim só porque você não tem o cabelo laranja. – Eu não sabia o que responder sobre isso.


- Você não precisa ser amigo dela, sabe. – Disse a segunda garota com o rosto estranhamente redondo.


- Eu quero ser amiga dela.


Uma terceira garota atrás das outras duas bufou. Ela tinha cabelos ruivos e um nariz rude arrebitado.


- Bem, se você ficar no grupo infantil dos feios... – A primeira garota avisou – Uma vez que você faz parte desse grupinho ai, você não vai pode abandona-los, nunca.


- Melhor do que um grupo de cadelas igual o seu. – Eu disse. A nariz arrebitado e a do rosto redondo ofegaram, mas a de cabelo negro sorriu.


- Vamos ver – Disse ela, e as três voltaram para o canto da sala. Sente-me ao lado de Kimber, sentindo-me um foda. Foda a primeira vez que usei um xingamento na frente de alguém que não fosse Kyle.


- O que elas disseram para você? – Kimber perguntou nervosamente.


- Elas disseram que você é bonita demais para fazer parte do grupo delas e que faz elas parecerem grosseiras, então temos que ficar longe delas.


- Mentiroso. – Kimber respondeu, mas eu podia dizer que ela estava sorrindo.


Nós encontramos com Kyle no refeitório no almoço e ele não tinha nada além de coisas ruins a dizer sobre sua manhã. A sra. Verdyl era velha e malvada e fazia com que todos fossem a frente e dissessem algo sobre si mesmos, embora a turma só tenha 14 alunos e todos já se conhecessem. Quando o sinal tocou para o recreio eu fui jogar o lixo restante do almoço junto com Kyle e encontrei uma criança que eu não tinha visto antes.


- Hey, você é o Sam Walker? – Perguntou o garoto.


-Sim.


- Oh! Sua irmã está namorando com meu irmão.


- Oh cara – Kyle riu – Sua irmã está namorando um membro da família Whitiger!


- Cale a boca Kyle – o garoto resmungou.


- Ela vai ser Whitney Whitiger!


Tão engraçado como que não poderia deixar de ficar um pouco surpreso. Não que eu estivesse prestando atenção, mas eu só tinha visto Whitney fora do quarto dela uma vez durante todo o verão.


- Hum, onde ela o conheceu? – Perguntei ao garoto Whitiger.


- Não sei, provavelmente no trabalho dele.


- E onde que seu irmão trabalha?


- Ele trabalha no lava-rápido Drisking.


Não fazia sentido para mim, mas eu dei os ombros. Lembrei-me da minha mãe dando a Whitney algumas tarefas domésticas, como lavar o carro e comprar algumas utilidades para tira-la de casa. Talvez ela o conheceu dessa forma e eles começaram a namorar por mensagens de texto. Adolescentes eram estranhos.


O resto da semana da escola seguiu muito como o primeiro dia. Estávamos bem no primeiro mês quando ouvi alguém mencionar os Homens esfolados novamente. Nós estávamos no playground e Kyle e eu estávamos tentando começar uma fogueira com duas grandes lascas de madeira. Eu acabei de esfregar uma lasca quando o som distante de metal rangendo inundou o playground, silenciando cada um de nós.


- Borrasca – Eu disse em reverencia.


- Sim – Disse Phil Saunders – Os homens esfolados estão matando novamente.


- Hey, Kyle disse que apenas as crianças acreditavam nos Homens esfolados! – Eu lancei um olhar acusatório para Kyle.


- Isso mesmo! Phil é uma criançona idiota.


- Não sou! Pergunte a Danielle, ela sabe! – Phil vasculhou o playground e depois gritou para uma garota loira conversando com a Nariz arrebitado – Hey, Danielle, vem aqui!


A loira revirou os olhos, mas veio correndo de qualquer maneira.


- O que você quer? Eu te disse que Kyle não gosta de você, Phil.


- Não é isso, diga a eles sobre os Homens esfolados. – Phil gesticulou para o ar ao nosso redor que estava cheio de raspagem metálica descendo da montanha.


- Você contou a eles?


- Você os viu, então conte a eles.


- Eu não os vi, foi a Paige.


- Oh – Phil disse e um silencio constrangedor atingiu a conversa.


- Vocês são estranhos – Disse Danielle antes de se virar e sair.


- Quem é Paige? – Eu perguntei quando ela foi embora.


- A irmã dela – Respondeu Phil.


- Paige desapareceu quando nós tínhamos cinco anos – Disse Kyle.


- Depois que ela viu os homens esfolados – Acrescentou Phil.


Os sons da montanha terminaram abruptamente e a atmosfera suave do parquinho desapareceu com ela. Quando o sinal tocou, Kyle se enfileirou na fila da sua classe, e como Phil era da minha sala, eu me certifiquei de ficar atrás dele. Os professores começaram a contagem.


- Hey, o que mais você sabe sobre Borrasca? – Eu sussurrei para ele.


- Meu irmão disse que é para onde todas as pessoas vão quando desaparecem. Para Borrasca.


- O que acontece com eles lá?


- Coisas ruins – Ele disse e depois me calou quando perguntei o que isso significava.


O ano continuo e não foi até o Natal que ouvi a maquina em Borrasca novamente. Era dezembro e havia uma grossa camada de neve no chão que só servia para amplificar o barulho da montanha. Eu sentei no meu quarto, ouvindo por alguns minutos tentando imaginar o que acontecia no lugar que coisas ruins acontecem. Eu ouvi o carro do meu chegando pela janela e desci as escadas para cumprimentá-lo. Quando passei pela porta da minha irmã, ouvi ela rindo de maneira irritante e adolescente e me encolhi.

Eu esperava que Kimber nunca fosse assim.


- Papai! – Eu escorreguei pelo corrimão assim que ele abriu a porta. Meu pai tirou a neve das botas e abriu os braços.


- Sammy! Há quantos anos? – ele brincou.


Mas era verdade que não via muito meu pai ultimamente desde que ele estava trabalhando tanto. Fazendo o que, eu não sabia, já que esta era a cidade mais quieta e chata de todos os tempo. Mamãe achava que o xerife estava preparando o pai para o trabalho dele já que Clery já era bem velho e papai nunca concordou ou discordou dela. Ele só estava no departamento há alguns meses, afinal e duvidava que as pessoas do condado votassem nele.


- Hey pai, você já ouviu isso? Como um barulho de máquina?


- Sim, eu ouço na cidade de vez em quando.


- O que você sabe sobre isso?


- Eu perguntei ao xerife uma vez e ele me disse que o barulho vem da propriedade privada em Ozarks.


- É uma propriedade chamada Borrasca? – Eu perguntei rapidamente,


- Eu não faço ideia. Borrasca? Onde você ouviu isso?


Dei os ombros – As crianças da minha escola.


- Bem, não é nada para se preocupar, Sammy, provavelmente apenas alguns equipamentos exploração de madeireira.


- Mas o lugar é chamado Borrasca? Você já ouviu esse nome antes?


- Nunca ouvi sobre isso antes – Papai tirou as botas e o casaco olhando para a cozinha. Eu poderia dizer que estava perdendo a atenção dele.


- Você já ouviu falar sobre os Homens Esfolados? – Eu perguntei rapidamente.


- Homens esfolados? Por Deus. Sam. É sua irmã que anda te contando essas histórias?


- Não – Mas ele não estava me ouvindo mais.


- Whitney – Ele gritou até as escadas.


- Não pai, Whitney nem fala comigo – Eu repeti.


Ouvi uma porta se abrir no andar de cima e Whitney espiou por cima do corrimão, com o telefone na mão e um olhar de irritada no rosto dela.


- Você está tentando assustar seu irmão? – Papai exigiu.


- Não foi ela pai – Eu disse novamente.


Whitney me lançou um olhar de traição – Ugh, Serio? Como se eu fosse perder meu tempo com isso.


- Você não está contando histórias sobre “Homens Esfolados”, Está?


- Não pai, eu te disse que ouvi na escola – Eu falei.


Whitney apontou para mim como se dissesse “Viu”?


- Tudo bem, vocês crianças precisam a começar se dar bem, pelo amor de Deus vocês são irmãos. – Whitney revirou os olhos enquanto meu pai entrava na cozinha e ela mostrou a língua para mim.


- Bem maduro em Whitney! – Eu gritei para ela, mas ela já tinha ido embora – Eu vou contar pro papai sobre seu namorado!


O natal veio e foi com uma suavidade surpreendente em nossa casa. Whitney e eu tínhamos tudo que tivemos em nossas listas, o que foi a primeira vez para nós. A cidade pode ser menor, mas os contracheques do papai eram claramente melhores.


Eu usei minha nova Jaqueta de atleta NFL no primeiro dia de aula depois do feriado do natal. Kyle bajulou e Kimber mostrou o colar de perolas azuis que sua mãe lhe deu de natal. Kyle e eu fingimos interesse, mas o fizemos mal. Kimber sabia, mas parecia feliz que nos importássemos o suficiente para fingir.


Quando nos despedimos de Kyle pela manhã, Kimber foi subitamente jogada de lado. Kyle a pegou antes que ela caísse e eu me virei com raiva para ver a garota de cabelos escuros, cujo nome eu aprendi ser Phoebe Dranger – rindo e se afastando de nós com a garota do rosto redondo.


- Vocês são garotas ruins que só fazem maldade – Kyle gritou para elas. – Quando eu for seu chefe algum dia, vou fazer questão e deixar os banheiros bem sujos pra vocês limparem.


- Sim, e quando Kyle for seu chefe, você saberá que fracassou muito na vida! – Eu adicionei, Kyle e eu nos cumprimentamos e voltamos para Kimber, mas ela não estava compartilhando nossa vitória – Ela estava tentando esconder as lágrimas em seu rosto.


- Não se preocupe com essas garotas Kimber, ninguém gosta delas. As pessoas são só são gentis com elas porque são parentes dos Prescotts. Kyle tentou dar-lhe um tapinha desajeitado nas costas, mas Kimber se afastou e correu na direção oposta.


- Odeio essas garotas. Como eu realmente as odeio. – Eu disse.


- Eu sei, elas são vadias! – Kyle respondeu, murmurando a última palavra enquanto olhava por cima do ombro para qualquer adulto a espreita.


- Bem, é melhor eu ir para aula e me certificar de que elas não tentem perturbar ela novamente.


- Tem uma reunião esta manhã. Nenhuma aula até depois do almoço.


-A serio? Fantástico! Temos que nos sentar na aula?


- Normalmente não, mas é melhor chegarmos lá rápido para que possamos nos sentar nos fundos. – Disse Kyle quando começamos a caminhar.


- Para que serve a reunião?


- Não sei ao certo, Apresentação da Sociedade histórica ou Programa de combate as drogas.


- Oh, espero que seja história então.


Encontramos Kimber já no auditório. Ela se recompusera e nos reservou dois assentos no fundo da sala. Ela nos acenou assim que a severa e gorda Sra. Verdyl subiu ao palco.


- Olá alunos do 4º Ano. Esta manhã temos uma apresentação especial para vocês sobre a Sociedade de Preservação Histórica da cidade de Drisking. Se você tiver dúvidas durante o curso da palestra, por favor, levante a mão.


- Como se isso fosse acontecer. – Kyle riu.


- Agora, gostaria de apresentar a vocês o Sr.Watt Dowdoing, a sra. Kathryn Scanlon e é claro, o sr. James Prescott.


- O que! Jimmy Prescott está aqui e não seu pai? Isso é estranho! – Kimber sussurrou.


- Cara, o pai dele, Thomas Prescott fez essa apresentação nos últimos 20 anos – Disse Kyle – É realmente estranho.


- Não é estranho – sussurrou Mike Sutton atrás de nós. Ele se inclinou para frente – Tom Prescott ficou louco há um ano. Ele não fez apresentação ano passado também, minha irmã estava aqui.


- Eu não gosto do Jimmy Prescott – Kimber sacudiu a cabeça – Ele me causa arrepios. O pai dele é muito mais legal, ele é como um avô.


A apresentação foi lenta e chata. Dowding e Scanlon falaram sobre as primeiras colonizações da cidade. Eles falaram sobre a descoberta de Alexander Drisking e um código-mãe de minério nas montanhas e se estabeleceram aqui com suas famílias para minerar e refinar ferro. Em seguida, James Prescott subiu ao palco para contar a história da jornada de sua família até a cidade e o papel dela na revitalização de Drisking ao a partir do final dos anos 50.


A última parte foi a mais interessante de todas e achei Jimmy Prescott infalivelmente carismático e divertido. Eu estava rindo de suas piadas e prestando atenção em cada uma de suas palavras, ao final da apresentação percebi que realmente aprendi um pouco. Tanto que eu estava interessado o suficiente para fazer uma pergunta, Kyler advertiu que eu estaria cometendo um suicídio social.


O Sr. Prescott examinou a sala e respondeu algumas outras perguntas antes de finalmente chegar até mim na parte de trás.


- Sim, você ai no fundo.


- Sr. Prescott, porque as minas de ferro fecharam? Tipo, o que aconteceu? – Eu perguntei.


- Muito boa pergunta jovem, Qual é mesmo seu nome?


- Ah, Sammy Walker.


- Ah, acho que conheci seu pai outro dia no escritório do xerife. Seja bem vindo a Drisking! Quanto a sua pergunta, a maioria das minas foram fechadas em 1951, após um longo período de rentabilidade; a montanha simplesmente ficou sem minério de ferro para extração. As usinas e refinarias foram abandonadas e a cidade sofreu por alguns anos. Os mineradores e suas famílias se mudaram , as lojas se fecharam e Drisking se tornou uma cidade fantasma.

Isso teria sido o fim, senão fosse por famílias teimosas como a minha que se recusaram a abandonar a cidade. Depois de muitos, muitos anos de trabalho duro, Drisking se tornou o pitoresco refugio em Ozarks que é hoje. Espero que isso responda sua pergunta.


Eu me sentei de volta e Kyle balançou a cabeça para mim – Mano...


A reunião durou mais um quinze minutos, até que a Sra. Verdyl finalmente nos liberou. Fomos para o refeitório esperar que as filas se formassem. Kyle, Kimber e eu nos sentamos em nosso canto habitual.


- Isso foi muito chato! – Kyle choramingou – Quando eles vão perceber que ninguém se importa com a história de Drisking? Sério, eu cochilei umas três vezes.


Kimber me cutucou – Sam parecia se importar – brincou ela.


- Eu só queria saber sobre as minas. Acho as minas assustadoras, apenas isso.


- Sim, mas todas as minas da cidade foram explodidas. Você não pode mais entrar nelas. – disse Kyle.


- Explodidas? – Eu perguntei.


Kimber assentiu – Algumas crianças morreram depois de entrarem nas minas, então a cidade deu inicio a algumas “explosões controladas para implodir as cavernas”, pelo menos é o que minha mãe me disse. Eles bagunçaram, porem, eu ouvi que eles explodiram o lençol freático ou o envenenaram ou algo assim.


- O que? Como você sabe disso?


Kimber encolheu os ombros – Eu ouvi meu pai falando sobre isso.


- Eles usaram C4 ou algo assim?


- Eu acho que sim.


Então todos se todos nós bebemos a água, então temos C4 em nossos corpos e poderíamos explodir a qualquer minuto? – Kyle disse animadamente.


- O que você acha que aconteceu com todas as pessoas desaparecidas? – Perguntei a ele – Eles estavam apenas sentados no sol algum dia e BOOM!?


- Sim cara – Kyle agarrou meus ombros –E é dai que os homens esfolados surgem.


Eu fiz o símbolo internacional de pessoa louca e rimos histericamente.


- Vocês são burros – Kimber revirou os olhos, mas então ela riu quando Kyle caiu no chão fingindo que estava explodindo.  Lembro-me de pensar naquele momento que eu realmente era feliz naquela cidade de Drisking com aquelas duas pessoas. Mais feliz do que já estive em qualquer outro lugar.


E foi o ultimo momento verdadeiramente feliz que tive. Menos de uma hora depois, o telefone do Sr. Diomont, ele trocou algumas palavras silenciosas com a pessoa do outro lado da linha, seus olhos passando rapidamente pela minha mesa. Foi difícil ficar surpreso, então, quando ele desligou, me pediu para ir até a frente.


Quando cheguei lá, ele me disse que minha mãe estava me esperando na secretaria e que eu devia arrumar minhas coisas que sairia mais cedo. Eu troquei um olhar confuso e preocupado com Kimber e então arrumei minha mochila e fui para secretaria. Quando cheguei lá, minha mãe estava chorando.


Nós dirigimos para casa em silencio. Eu estava com medo de perguntar o que estava acontecendo. Mamãe estacionou o carro a um quarteirão e nossa casa, que estava bloqueada com vários carros da policia. Como a explicação não veio, eu mesmo quebrei o silencio.


- É o papai? – Eu perguntei baixinho, segurando as lágrimas.


- Não querido, seu pai está bem – Ela sussurrou.


- Então o que aconteceu?


- Sua irmã, Whitney nunca chegou á escola essa manhã.


- Oh, mãe, eu acho que ela matou aula – Eu disse rapidamente – Eu vi ela saindo mais cedo hoje, tipo umas 6, e ela estava com as amigas, Pete Witiger e aquele garoto Taylor.


- Nós sabemos de tudo isso, Sam. Mas eles foram para escola e Whitney não estava com elas. Eles disseram que ela queria passar no Posto de Gasolina primeiro pero da escola, então eles a deixaram lá. E ninguém a viu desde então.


- Bem... – Meu cérebro lutou para chegar a alguma explicação – Talvez ela esteja matando aula.


- Não querido – Minha mãe ligou o carro e foi até a nossa casa, estacionando atrás de um carro da policia. – A policia, assim como seu pai, acha que Whitney está com Jay.


- Mas ela tem um novo namorado aqui mãe.


- Encontramos todos os livros da escola no chão do quarto dela esta manhã, apenas metade de suas roupas e dinheiro do seu pai faltando na carteira dele.


- Mas...


- Agora, achamos que ela pegou carona para St. Louis e que ela esta com Jay. O escritório do xerife está tentando entrar em contato com os pais do menino agora.


- Whitney, Fugindo? Qualquer um que conhecesse minha irmã sabia que ela estava propensa a dramas e ameaças vazias. Além disso, ela estava namorando o irmão mais velho do Chris Witiger, o Pete. Eu tinha certeza disso.


Subimos os degraus e entramos em casa cheia de gente mais velha e múrmuros silenciosos. Eu tentei me lembrar se a própria Whitney havia realmente confirmado o namoro com o Pete, mas esse espaço estava em branco. Quando entramos na cozinha, vi meu pai sentado á mesa, olhando para os registros telefônicos com a mão na cabeça. Ele olhou para mim quando entrei no comodo e me deu um sorriso fraco.


- Hey amigo.


- Pai, eu tenho uma coisa para dizer.


Senti uma mão pesada no meu ombro e me virei para olhar o solene Xerife Clery.


- Tudo e qualquer coisa que você possa saber filho. Não importa o quão trivial você pense que seja.


Eu balancei a cabeça e sentei-me a mesa com meu pai, enquanto minha mãe estregava uma xícara de café ao grande homem.


- Aqui está xerife – Ela disse fracamente.


- Por favor , Sra Walker, me chame Killian.


Minha mãe assentiu e recuou para um canto escuro para conversar em voz baixa com a esposa do xerife Clery, Grace.


- O que você sabe Sam? – Meu pai perguntou enquanto descansava o queixo sobre as mãos em um símbolo de oração, como se eu pudesse livra-lo do sofrimento.


- Bem, eu ouvi que Whitney tem um namorado aqui, aquele cara do lava rápido, Pete Witiger e eu vi eles e Taylor Dranger saírem hoje de manhã antes de mim.


- A que horas eles saíram? – Perguntou o xerife.


- Eu não sei, um pouco antes das seis.


Ele assentiu – isso coincide com as declarações de Taylor Dranger e o menino Pete Witiger – A cabeça do meu pai afundou em suas mãos e eu sabia que tinha decepcionado.


- Não acho que ela voltou a St. Louis porque ela estava namorando com o Pete e não acho que ela queria fugir de casa.


- Eu entendo isso filho, mas a mente de uma adolescente é uma coisa complicada. Meus oficiais estão tentando se apossar da família do namorado em St. Louis. – Clery acenou para meu pai – Agora, porque você não vai para seu quarto e nos deixe trabalhar Sammy.


Eu olhei com surpresa – O que? Não! Eu quero ficar aqui embaixo. Eu quero ajudar!


- Não filho, Não há mais nada que você possa fazer asui. Você tem sido um bom irmão, agora os adultos tem que lidar com isso.


- Mas eu posso ajudar.


- Você já ajudou.


- Mas pai! – eu olhei para meu pai com os olhos implorando.


- Vá para seu quarto Sam – Ele disse baixinho depois de um momento. Eu recuei.


- Papai.


- Agora!


Eu estava com tanta raiva que fiz a única coisa que poderia evidenciar minha raiva, eu pisei pesadamente no andar de cima e bati a porta com força e depois m sentei na minha cama em descrença. As lagrimas vieram então e eu fiquei lá, me sentido impotente, sem valor e com medo pela minha irmã.


 Pensei em todos os lugares que Whitney poderia ter ido. Ela estava com medo? Estava sozinha? Estava... Morta? Quando o sol começou a se por, finalmente saí da cama e fui checar meu e-mail. Eu estava esperando muitas mensagens de Kimber e Kyle, mas havia apenas uma.


“Será que ela foi para a casa da árvore?”


Fiquei sentado olhando para tela do computador por quase um minuto, as palavras de Kimber do último outono ecoaram no meu cérebro.


“Se você entrar na casa da árvore sem a devida cerimonia, você desaparecerá e então morrerá”.


Eu não aceitei que Whitney tenha ido ao posto de gasolina comprar algo naquela manhã, e também não acreditava que ela tivesse fugido da cidade. Nada do que eles estava dizendo lá embaixo fazia sentido se você conhecesse minha irmã, Mas isso sim poderia ter acontecido. Talvez ela e seu namorado foram para a casa da árvore para fazer alguma coisa lá, e ele talvez tenha deixado ela lá por algum momento. Talvez ela tenha se perdido ou talvez os Homens esfolados a tivessem encontrado. Esse foi o pior de todos os pensamentos.


Eu não precisava fugir porque a policia estava muito ocupada com meus pais para se importar comigo de qualquer maneira. Eu tirei minha bicicleta da garagem e pedalei por três quilômetros até a “Trilha da Orla Leste de Minério de Prescott”. Quando cheguei lá, vi duas bikes já estacionadas na placa e meus dois melhores amigos sentados na neve ao lado delas.


- Eu sabia que você viria – Disse Kyle quando desci da bicicleta e Kimber correu para me abraçar.


- Eu sinto muito Sam.


Não havia realmente nada para eu dizer a eles. Kimber pegou meu braço e nós começamos a trilha. O silencio entre nós estava esticado, mas confortável. Nós nos arrastamos pela neve e todo o tempo eu procurava por pegadas que pudesse revelar algo, mas a neve estava vindo rápida demais. A subida da montanha era mais difícil e úmida do que quando viemos no outono. E quando o FoRte de Ambercot finalmente apareceu, foi uma visão bem vinda. Os sol estava se pondo e nós não tínhamos trazido lanternas.


Eu cai enquanto corria até a arvore, chamando o nome de minha irmã para a quietude selvagem. Kyle estava bem atrás de mim e saltou impressionantemente até a escada de corda subindo rapidamente pelas tábuas. Eu continuei chamando o nome de Whitney, esperando Kyle  gritar o que ele tivesse encontrado ou pelo menos algum sinal dela.


E então ouvi Kimber chamar baixinho pelo meu nome de onde estava a árvore tripla. Eu corri e tentei seguir os olhos dela para confirmar o que eu já previa que estava lá. E então eu encontrei, recém esculpido perto do topo:


Whitney Walker.


Minha respiração congelou no meu peito e minha visão ficou borrada com lágrimas indesejáveis. E quando o sol deu seu ultimo feixe de luz antes de mergulhar nas profundezas do horizonte, um turbilhão metálico ensurdecedor cantou do deserto e desceu pela encosta da montanha.

Next

Prev

0 comentários:

Postar um comentário

Blogger Panda