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05 outubro, 2020

BORRASCA II

 

II.


Debaixo da árvore tripla existe um homem que espera por mim e eu devo ir ou então ficar do mesmo jeito que será o destino de todos.

- Bom dia.


As palavras me fizeram acordar do balcão onde eu cochilava. Jimmy Prescott estava do outro lado com um olhar divertido e desaprovador no rosto.


- Oh merda, desculpe-me Sr. Prescott. Eu não ouvi você entrar.


- Você sabia que eu trabalhei aqui também quando era adolescente. Eu instalei o sino na porta por esse motivo. Parece que nem isso te acordou não é. – Ele riu. Murmurei outro pedido de desculpas e preguiçosamente ajeitei a pilha de cartões de visita na minha frente.


- Dormiu tarde essa noite?


- Ah... Um pouco. – “Muito tarde”.


- Espero que você não tenha saído pra noite como todos os outros bebedores menores de idade.


- Não senhor. “Claro que sim”.


- Bom, de qualquer maneira estou aqui apenas para almoçar. Vou querer um de frango parmesão com pão de centeio.


- Sim senhor. – Feliz que a conversa acabou, caminhei até o balcão do sanduíche e desenrolei da gaveta o pão de centeio.


Jimmy Prescott recuou do balcão e estudou distraidamente as fotos na parede, embora já tivesse visto milhares de vezes antes. As maiorias das fotos eram da família Prescott, tiradas no ultimo século. Eu sempre pensei que fosse uma decoração estranha, mas depois entendi que essa lanchonete pertencia à família deles.


- Maria está aqui? – Prescott perguntou  enquanto eu embrulhei seu sanduíche. 


- Está lá nos atrás.


- Ah, pensei que ela ainda estava em St. Louis. Bem, quando você terminar se importaria de chamá-la para mim?


“Merda”


- Sim senhor.


Entreguei-lhe o sanduíche e fui para a parte de trás para encontrar Maria. Ela estava no escritório, furiosamente apertando as teclas da calculadora da contabilidade.


-Uh, Maria? Jimmy Prescott está lá na frente. Ele quer falar com você.


Ela se virou para mim e me lançou um olhar duvidoso. – Ele disse sobre o assunto? – Eu balancei minha cabeça negativamente.


- Ok – Ela suspirou – Você pode tirar o resto do dia Sam.

- Mas... Você tem certeza? – O relógio ainda mostrava três horas.

- Ele é o único cliente que entra aqui o dia todo. Não se preocupe, eu pagarei pelo dia inteiro, agora vá garoto.

- Obrigado Maria, e boa sorte, eu acho.


Eu dei a ela um encolher de ombros e ela deu um tapinha no meu braço. Eu não sabia como ela fazia isso. Maria podia ser a mulher mais sobrecarregada e estressada de todos em Drisking, mas nunca deixava de ser incrivelmente gentil. Havia alguma falta de esperança sobre ela, uma tristeza que ela escondia muito bem.


Saí da loja pela porta dos fundos para não precisar ver Jimmy Prescott novamente. Seus olhos âmbar estranhos e amarelados sempre me causava desconforto. Sem mencionar que ele era dono de tudo.


Pulei no meu carro e mandei uma mensagem para Kyle dizendo que já sai do trabalho. Ele me respondeu imediatamente e me disse para ir encontra-lo. Eu alegremente chicoteei meu avental sobre minha cabeça e joguei o carro em marcha ré. Cristal Lake era a lagoa e meu lugar favorito em Drisking.


Eu tive que estacionar quase uma milha de distancia já que o lago estava tão cheio. Eu finalmente encontrei Kyle e Kimber sentados em uma rocha que se projetava sobre as águas.


Kimber estava tomando sol em um biquíni floral azul e Kyle estava usando aqueles famosos óculos de sol “ninguém sabe para onde eu estou olhando”.


- O que foi que eu perdi? – Perguntei, me sentado ao lado de Kimber.

- Quase nada. – Ela respondeu, alongando-se e sentando-se – Só algumas cervejas – Ela cavou a mão na caixa de isopor atrás dela e tentou me entregar uma lata de Kaiser.

- Ugh, não – Eu acenei para longe – Tem algum remédio para ressaca?

- Oh não – Kimber respondeu – Eu sinto muito.

- Ok, então vou precisar desses óculos de sol – Eu estendi a mão para Kyle, que olhou para mim com horror.

- O que? Não vou lhe emprestar meu óculos!

- Oh, vamos lá Kyle, me empresta seus óculos. O Sam aqui ainda não conseguiu nem dormir depois da bebedeira que fizemos ontem.


Eu sorri para Kyle e ele apertou seus lábios. Nós dois sabíamos exatamente o que ele estava fazendo. Kimber acariciou o braço de Kyle em encorajamento. 


- Por favor? – Perguntou ela.

- Tudo bem – Ele disse e me empurrou seus óculos para mim. Eu os coloquei no rosto e me sentei, virando a cabeça para observar as meninas de biquini dentro e na beira da lagoa. Phenelope Dranger, a menina de cabelos escuros, estava deitada e rindo em uma toalha ao lado da menina do rosto redondo. Ainda parecia um estranho ver as duas sem a Nariz arrebitado. As três eram inseparáveis, trabalhavam tão bem juntas quando engrenagens de um relógio até a Kristy se apaixonou por um garoto da faculdade e fugiu com ele.

- Então, porque você saiu cedo do trabalho hoje? – Kyle perguntou.

- Jimmy Prescott chegou.

- Eca – Kimber se contorceu – Ele ainda me assusta. Ele parece me encarar desde a quinta série.

- Da próxima vez que ele olhar pra você, me avise e eu vou acabar com ele – Kyle sempre foi protetor da Kimber, mas desde que os dois começaram a namorar, ele ficou dez vezes mais insuportável.


Kimber piscou para ele – Então, o que ele queria Sam?


- Ele queria falar com Maria, Provavelmente sobre a lanchonete.


- Você quer dizer sobre como ninguém vai lá e o negocio já devia ter ido a falência anos atrás, mas não vai por que os Prescott são teimosos e vaidosos? – Disse Kyle.


- Sim, provavelmente, quero dizer que ela parecia muito preocupada. Eu posso contar nos dedos quantos sanduíches vendi no mês passado.


- Eita! – Kimber fez uma careta.- Sim. Tenho certeza que ela vai ser mastigada viva. Eu realmente não gosto daquele cara. – Eu imaginei sobre a aberração de olhos amarelos gritando com a doce Maria e isso fez meu sangue ferver.


- Você devia ter conhecido o pai dele – Kyle bufou – Ele sim era trabalhador.


- O pai dele?


- Sim, Thomas Prescott – Disse Kimber – A família dele o colocou em uma casa de repouso em outra cidade.


- Porque ele está em uma casa de repouso?


- Ouvi dizer que ele sofreu de demência e estava envergonhando a família em publico – Disse Kyle.


- Eu também ouvi isso – Kimber tirou seus longos cachos de seus ombros. – Eu sempre gostei do Tom Prescott. Foi uma pena isso ter acontecido.


- Hey crianças – Nós nos viramos, então vimos Phil Saunders saindo do mato atrás de nós com Mike Sutton seguindo. – Então é aí que as pessoas legais ficam? Bem em cima da Pedra do Rei.


- Cale a boca Mike – Disse Kyle, ignorando Phil, a quem ele não gostava desde que Phil tinha saído algumas vezes com Kimber. Phil não sabia ou não estava se importava com os sentimentos de Kyle. Claro, isso também pode ter acontecido porque Phil estava sempre chapado e agora não era uma exceção.


Eles se sentaram ao nosso lado e Mike me ofereceu seu baseado.


- Quer dar um tapa?


Eu queria da um murro na cara dele. Eu estendi a mão para soca-lo, mas Phil afastou minha mão.


- Cuidado cara, você não vai querer ver o filho do xerife chapado. Pelo amor de Deus Mike. – Mike assentiu conscientemente.


Eu fiz uma careta – Serio?


- Desculpe-me Sammy. Inferno, a única razão pela qual que estou fumando perto de você é porque hoje é o aniversário da morte do meu primo e não estou dando a mínima para qualquer coisa.


- Sua prima Hannah? – Kimber perguntou com um olhar simpático.


- Sim, Hoje faz cinco anos que ela se foi.


- Muitas pessoas desapareceram nessas florestas cara. – Mike disse enquanto exalava uma nuvem de fumaça.


- Verdade cara – Phil assentiu – Você sabia que as vezes, quando estou chapado, posso ver todas elas? Eu sinto que sei a resposta para esse mistério, cara. Acho que estou perto de resolver isso. É apenas um dom que me permite vê-los. Como se cada um fosse uma peça de um quebra-cabeça e na minha mente eu vejo o quebra cabeça se unindo, mas não sei dizer o que falta, entende?


- Você já está bem louco, Saunders – Disse Kyle.


- Todos nós cara, Todos estamos loucos. Todo mundo nessa cidade está tão louco que estão bebendo Kaiser.


Kimber levantou uma sobrancelha para ele mas não disse nada.


- Todos, exceto os mortos. Eu posso vê-los como eles eram antes de irem pra baixo da terra. Eu vejo todos. Hannah, Peige, Jason, Metley. Inferno, eu já até vi sua irmã, Walker.


Kyle, que eu sabia que estava prestando atenção na conversa para mencionar isso, ficou de pé e abriu a boca para gritar com Phil.


- Mas Whitney Walker fugiu para St. Louis. Não lembra? – Mike disse.


Eu vi Kyle e Kymber trocarem uma rápida olhada enquanto eu tentava permanecer impassível por trás dos óculos escuro.


- Isso é verdade cara? – Phil perguntou. E ai estava.


Eu sabia que Kyle e Kimber sempre me perguntaram o que eu achava sobre o desaparecimento de Whitney e se eu já tinha aceitado a declaração oficial de que ela e Jay tinham fugido juntos. Eles tiveram a gentileza de não mencionar, mas eu sabia que eles queriam saber no que eu acreditava que realmente aconteceu.


Eu amava os dois e queria conversar com eles sobre isso, mas simplesmente não conseguia. Todos pensaram que eu tinha passado os últimos sete anos em luto e que eu deixei o incidente para trás. Pelo menos é o que eu tentei mostrar para eles.


A verdade é que eu nunca desisti de Whitney. Eu esperei anos para encontrar Jay nas redes sociais e quando finalmente o encontrei no ano passado, fiquei arrasado. Eu sempre torci para que o relatório da policia estivesse certo e que Whitney estivesse feliz em algum lugar longe daqui, viva e feliz com Jay Bower. Mas sua página do Myspace mostrava um adolescente próspero, ainda morando na casa dos pais, sua ex-namorada, Whitney, com certeza estava longe de seus pensamentos há anos.


Quando levei as evidencias para meu pai, ele leu as páginas que eu imprimi e depois fechou  a porta do escritório comigo do outro lado. Eu o vi chorando lá por horas enquanto esperava que ele reabrisse a investigação e trouxesse a droga do departamento do condado. Mas a justiça nunca chegou e nunca mencionado Jay Bower novamente.


Por alguma razão, eu nunca disse a Kyle e Kimber sobre nada disso. Talvez fosse porque eu estava preocupado que eles reagissem como meu pai, ou talvez, muito provavelmente, eu não queria que eles soubessem o quão obcecado eu me tornei a respeito de Borrasca e os Homens Esfolados. Eu sabia, tão seguramente quando o sol que nasci todas manhãs, que a morte de Whitney havia acontecido em Borrasca, assim como todos os outros que desapareçam e coincidentemente tinham visitado a árvore tripla.


De repente eu estava consciente de quatro pares de olhos me encarando.


- Sim, é verdade. Ela fugiu com esse cara, Jay da nossa cidade natal. – Respondi. Isso foi o suficiente para Kyle.


- Tudo bem pessoal, sério pessoal, ele é o garoto do xerife. O que acha que vai acontecer se ele for pego com maconheiros?


- O homenzinho está certo Phil, vamos pra outro lugar. Não preciso de mais problemas com os policiais por aqui. – Disse Mike.


- Até mais tarde, Walker, Kimber, Homenzinho – Phil disse levantando-se, tirou as calças e saltou da pedra para areia abaixo. Ele pulverizou areia nas duas garotas calouras e gritaram e o chamaram de burro lesado. Phil apontou seu chapéu invisível e reverenciou para elas dizendo “senhoritas” antes de sair.


Mike o seguiu para baixo e enquanto os observava descendo a praia, percebi a conversa que passava atrás de mim.


- Eu não disse que não queria ir, eu disse que tenho que ir. – Disse Kimber.


- Mas são apenas duas horas! E é domingo.


- Eu sie, mas meus pais têm brigado muito ultimamente e não quero deixar minha mãe sozinha por um tempo.


- Eu pensei que ela estava melhor.


- Um pouco, mas ela ainda está deprimida Kyle.


- Você quer passar a esta noite na minha casa?


A voz de Kimber caiu para um sussurro.


- Eu só não... Eu não acho que estou pronta para isso ainda.


- O que, não, espere, não foi isso que eu quis dizer! Eu dormiria na sala e você teria meu quarto. – Um silencio embaraçoso – Meus pais te adoram, você sabe. 


Kimber riu. – Eu sei. Eu só quero estar lá para minha mãe hoje. Mas obrigada, querido.


E então, o som repugnante dos meus melhores amigos se beijando. Eu nunca me acostumaria com isso.


- Ugh, desse jeito, eu vou dar o fora daqui também – Levantei-me e dei a ambos um olhar de vergonha.


- Oh, vamos lá, Sam, não fique com ciúmes, nós vamos encontrar uma namorada para você algum dia. – Kyle brincou.


- Eu realmente não preciso de ajuda com isso – Eu murmurei, olhando para praia onde Emely Addler estava tomando sol – Eu vejo vocês amanhã.


- Ultima semana da escola! – Kimber gritou com minhas costas recuando. Graças a Deus.


Amanhã era a ultima segunda-feira do ano letivo e enquanto eu deveria estar agradecido pelo meu segundo ano do ensino médio que estava acabando, eu não estava. As férias não significavam diversões, e sim, mais tempo para pensar em aborrecimentos na Lanchonete Artesanal dos Prescott.


Mas eu não estava ansioso por amanhã por outro motivo: Além de ser segunda, também era o dia do Teste Vocacional. Meu pai recebeu a informação isso a várias semanas atrás e me avisou para eu dar “um bom exemplo” e ir para escola naquele dia. Às vezes eu realmente odiava ser filho de um policial.


Kimber e Kyle foram simpáticos e se ofereceram para compartilhar da minha miséria. Eu implorei, na verdade, para a tristeza de Kyle.


Como eu esperava, meu pai estava esperando por mim quando cheguei em casa. Nós compartilhamos uma breve e tensa conversa sobre nossos respectivos dias e então ele finalmente tocou no assunto.


- Lembre-se Sammy, estamos reprimindo a evasão escolar de fim de ano. Eu quero você na escola amanhã.


- Sim, eu entendi pai.


- E eu espero que não precise ter que advertir Kyle também.


Suspirei – É apenas uma tradição pai, nem os professores quem ver nossa cara na ultima semana de aula.


- Eu não me importo; Além de ser o xerife, eu também sou pai e quero meu filho na escola.


Eu ri e balancei a cabeça. Que piada.


- Mas eu não posso controlar o que o Kyle faz.


- É justo, mas você pode controlar o que faz.


Eu não disse nada e papai suspirou.


- Está quase acabando Sam. Apenas passe pelos últimos cinco dias e você terá só mais alguns meses até terminar a escola.


- Tudo bem. – Eu sai da cozinha rudemente terminando a conversa. Subi as escadas e passei pela porta do quarto de Whitney até meu quarto. A luz estava acessa e o silencio por trás disso. Eu sabia que minha mãe estava lá. Ela sempre passava algumas horas no antigo quarto da minha irmã, fazendo Deus sabe o que.


Eu andei até meu quarto, fechei a porta atrás de mim e a tranquei. O dia seguinte na escola acabou sendo mais embaraçoso do que qualquer outra coisa. Haviam algumas outras pessoas que não tinham matado aula, talvez um total de dez alunos e os olhares que me atiravam deixando claro que meu pai era a razão pela qual eles estavam lá.


Kimber, grande amiga que era, felizmente foi para suas aulas como se fosse um dia normal. Kyle participou de todas minhas aulas comigo mesmo não sendo da minha classe. Os professores que esperavam ansiosamente por um dia fácil não poderiam se importar menos.


Pouco antes do almoço, um policial passou por todas as salas de aula e pediu copias das folhas de presença. Papai realmente não estava brincando sobre quebrar este ano. Eu ia ver a merda das pessoas durante todo o verão.


No intervalo, Kyle e eu fomos ao meu carro fumar.  Geralmente nós só fumávamos escondidos entre caminhões de pick-up grandes, mas hoje estávamos em um lugar visível e vulnerável. Guiei o carro para um canto sombrio do estacionamento e Kyle puxou o Boeing.


- Você mandou mensagem para Kimber? – Eu perguntei enquanto ele acendia.


-Sim - Disse ele através dos lábios apertados, enquanto deixava a fumaça em seus pulmões e em seguida, soprou por todo o meu painel. – Ela foi pra casa por volta da quarta aula. Ela disse que sua mãe ligou e ela estava indo para casa para cuidar dela. Eu não sei cara.


- A mãe dela te odeia? – Eu perguntei, tomando minha vez com o Boeing.


- Sim, Quero dizer, é um desenvolvimento relativamente novo desde que Kimber e eu começamos a namorar. Mas tenho certeza que ela sempre me odiou e acabou reprimindo melhor antes. Agora ela está toda deprimida com tudo e não dá a mínima.


Era difícil imaginar alguém odiando Kyle. – Por que o pai da Kimber não pode cuidar dela?


- Eu não sei.


Eu puxei no Boeing novamente.


- Ei cara, não vamos voltar mais pra aula hoje – Disse Kyle.


- Você acha?


- Sim, quero dizer, você já assistiu quatro períodos, você tem sido um bom filho, Além que o policial bundão já apareceu e pegou as folhas de presença.


- Policial bundão? Serio? Você é melhor que isso cara.


- Oficial... Bun... Dinha?


- Você está péssimo Kyle.


- Sério, vamos logo cara.


Eu pensei nisso por um segundo. Kyle estava certo, eu fiz o meu dever como filho e se eu saísse agora eu teria tempo suficiente para ir ao Fliperama Gamestop antes do trabalho.


- Foda-se – Liguei a ignição.


Kyle se acomodou na cadeira e abriu a janela para limpar a fumaça – Ei cara, você pode me deixar na casa da Kimber?


- Claro, mas como você vai chegar em casa?


- Você pode vir me buscar depois do trabalho.


- E se a mãe dela te expulsar de novo?

Kyle revirou os olhos.


- Isso foi só uma vez.


- Porque eu não posso simplesmente te deixar na sua casa e você pega seu próprio carro?


- Precisa de pneus novos.


Novos pneus. Claro. O que Kyle realmente queria dizer era que seu seguro tinha acabado e ela não tinha dinheiro para gasolina. Ele comprou o carro no verão passado depois de trabalhar turnos duplos na loja de conveniência por seis meses. Era um bom carro, mas eu sabia que ele só queria impressionar a Kimber, algo que ele negava veementemente. Teria funcionado? Não em minha opinião.


Ele começaram a namorar no outono e Kyle largou o emprego para passar mais tempo com ela. Kimber não parecia ser o tipo de garota que ficaria impressionada com um carro popular, mas Kyle estava convencido de que foi assim que ele a conquistou. Eu tinha certeza de que tudo que o carro fez foi dar confiança para ele convidá-la para sair. E agora que sua função no romance terminou, o carro estava na garagem dos Landy pegando poeira em vez de lembranças.


O Fliperama Gamestop não tinha o jogo que eu queria comprar, nem na locadora de Media e Games Drinsking. Como não tinha mais nada a fazer, decidi ir trabalhar mais cedo e torcer para que Maria me deixasse sair cedo hoje também.


Estacionei na frente e entrei pela porta, sem surpresa de não ver ninguém no balcão da frente. Havia apenas três de nós que trabalhavam na loja e infelizmente eu nunca cheguei a ver a outra garota, Emely, que trabalhava nos dias que eu folgava. Isso era decepcionante para mim, já que metade do motivo pelo qual me candidatei a essa vaga foi por ela em primeiro lugar.


Entrei na parte de trás para dizer a Maria que eu já estava lá e encontrei-a caída sobre a escrivaninha sobre uma pilha de recibos e papeladas. Essa não era uma maneira incomum de encontrar Maria, mas algo parecia diferente no dia de hoje. Senti imediatamente um perturbação, mas antes que eu pudesse fugir, ela se virou para mim e vi que estava certo em querer fugir; Maria estava chorando.


- Você é... Hum... Hum... Você está...


- Sinto muito, desculpe – ela disse rapidamente enxugando os olhos – Já são quatro horas?


- Não, são 2:15. Eu só pensei que talvez se eu chegasse mais cedo.


- Oh certo, é o seu dia sorte – Maria enxugou os olhos para enche-los de lágrimas novamente. – Eu não entendo Sam, essa lanchonete esta operando no vermelho desde quando fui contratada para administra-la. O que estou fazendo de errado?


- Eu não... Sei. – Eu respondi, o instinto de escapar dali nunca foi tão forte.


- Ninguém entra aqui, nunca, e o Sr. Prescott se recusa a me deixar colocar cartazes para anunciar! Ele diz que polui visualmente a cidade, mas como ele espera que eu faça negócios! Eu preciso deste trabalho, Sam, Deus eu só...


Eu devo ter parecido um animal assustado, porque quando Maria olhou para mim, ela sutilmente começou a se recompor – vá em frente, e vá para o balcão. Eu farei seu cartão de ponto.


Ela não precisava me dizer duas vezes. Eu realmente gostava de Maria e eu odiava vê-la assim.


Lá na frente não acabou sendo muito melhor. Eu podia ouvir Maria chorando por causa da trilha de musica tocando na loja. Seus soluços passaram para dolorosos e audíveis gemidos abafados. Depois de meia hora, decidi que tinha que fazer alguma coisa. Como eu estava totalmente desesperado para lidar com as emoções de uma mulher adulta, decidi ligar par o marido de Maria, Owen. Ele felizmente estava em casa e atendeu  no segundo toque.


- Estarei ai em breve.


Dei um suspiro de alivio quando ouvi um carro estacionar do lado de fora e vi Owen saindo, um homem alto e gordo. Ele veio para ajudar o colapso de sua esposa.


- Sinto muito em ter que ligar para você em casa, Sr. Daley, é que eu não sabia mais o que fazer.


- Tudo bem, Sam, você fez a coisa certa. – Ele parecia cansado e eu poderia dizer que esta situação não 

era nova para ele.


- Ela está bem? Quero dizer, ela vai ficar bem?


- Oh sim – Ele assentiu – Estamos apenas passando por algumas coisas.


- Oh. Maria disse que a lanchonete está indo á falência também. – Eu estremeci assim que essas palavras saíram da minha boca.


- Sim. – Owen passou a mão pelo cabelo – Isso também faz parte dos nossos problemas, mas acho que o sr. Prescott não vai deixar isso acontecer. Maria está mais chateada sobre... – Ele suspirou – Maria contou sobre ela? Ah, o sonho dela?


- Ah não.


- Bem, estamos tentando engravidar há anos. Longos e dolorosos anos. É tão importante para ela ter um bebê. E você sabia que ela me culpa pelos nossos problemas?


Ele andou pela sala, olhando para as fotos, não falando mais comigo.


- Eu entendo porque é importante para ela, eu simplesmente não entendo a obsessão dela por isso, sabe? É porque ela é a ultima da família dela? Só porque ela é a última McCaskey do planeta? Quero dizer, ela percebe que nosso bebê não seria um McCaskey? Seria um Daley! Eu lhe digo Sam, nunca se case com uma mulher com um pai louco e quatro tios mortos. Eles desenvolvem essas obsessões com a linhagem e...


- Quatro tios mortos?


- O que? Oh, sim. Os famosos. Você sabe sobre os quatro irmãos que morreram nas minas de Drinking? Bem isso, deixou o pai neurótico. E seus pais conseguiram engravidar dela. Então, é claro, você entende como a pressão cai pro meu lado.


Eu olhei para ele sem expressão e ele suspirou.


- Eu sinto muito garoto, estes não são seus problemas e estão muito acima do seu índice de pagamento. Eu estou muito estressado ultimamente. Nossos problemas de fertilidade e a absoluta aversão de Maria com a nossa única outra opção é...


- Mas como eles morreram? – Eu estava desesperado para falar sobre qualquer outra coisa e a história dos tios de Maria me interessava.

- Os meninos McCaskey? Eu realmente não sei. Eles morreram na montanha em algum lugar.

- Oh, bem, Hum, Você já ouviu falar dos homens esfolados?

- Homens esfolados?

- Isso.

- Eu acho que não.

- E Borrasca?


Owen Daley fechou os olhos e empurrou as têmporas com os dedos. – O que? O que uma Borrasca tem a ver com alguma coisa?


- Owen? – Maria gritou da porta.

- Oh querida, você está bem? Sam me ligou em casa...

- Sim, eu pedi para ele fazer isso.

- Você pediu? – Owen perguntou duvidosamente.

- Eu o chamei.


Seus olhos se voltaram para mim e eu imediatamente desviei o olhar. Era outra conversa que eu não queria participar.


- Sam, porque você não tira de folga? Maria e eu vamos lidar com as coisas aqui.

- Ok – Eu murmurei e corri para porta. Uma vez que eu estava no meu carro, liguei para Kyle.

- Cara, coisas muitas estranhas estão acontecendo nessa cidade.

- O que aconteceu?

- Eu não posso explicar por telefone. Onde você esta?

- Estou na casa da Kimber. Você já saiu do trabalho?

- Sim, estou indo ai pegar você.


Quando ele diz “casa da Kimber” ele na verdade queria dizer que estava sentado na calçada em frente a casa dela, pois voltou a ser expulso da propriedade. Quando parei, Kimber saiu e nos encontrou no meio-fio.


- Eu sinto muito Kyle – Ela disse – Minha mãe esta muito chateada hoje, ela nem me deixou sair de casa para sentar com vocês.

- Tudo bem – disse ele- Não se preocupe comigo, só queria ter certeza de que você e sua mãe estão bem.

- Estamos bem, e meu pais estará em casa em breve.

- Nos envie uma mensagem quando ele chegar que nós voltamos aqui para te buscar – eu disse.

- Bem que eu gostaria, mas estarei de babá hoje a noite até 7:30. Talvez depois disso?

- Certo.


Kyle e Kimber deram um abraço e Kimber correu de volta para sua casa.


- Então, o que está acontecendo? – Kyle perguntou, tomando um Drinque do cerveja quente que descansava no meu porta copos – Você ainda esta usando o avental da lanchonete, sabia?

- Maria teve um colapso hoje. – Eu disse, tirando o avental.

- Mesmo? O que aconteceu?


Eu contei a Kyle a história completa dando atenção especial aos quatro tios.


- Sim, os McCaskeys. Eu já ouvi falar deles. Não sabia que Maria era um deles, no entanto, pensei que estavam todos mortos.


- Sim, ela é a ultima da linhagem. Você acha que o McCaskey teve a chance de fazer alguma coisa? – Fazia algum tempo que não falávamos sobre Borrasca e Kyle se engasgou com a cerveja quente.


- Eu não sei, eu não sei cara. Quero dizer, Talvez se os desaparecimentos começaram na mesma época.


- Como podemos descobrir isso?


- Talvez os policial? Tem que haver relatórios policiais. 


- Ok, mas e se eu não pudesse perguntar ao meu pai?


Kyle sacudiu a cabeça – Eu não sie então.


E quanto aos registros semelhantes? As pessoas da sociedade histórica talvez?


- Oh sim – Ele disse assentindo – Podemos experimentar, essas palestras acabaram no ensino médio. Eles compartilham um escritório com artes e antiguidades Drisking.


- Eu fiz uma inversão na marcha e comecei a voltar para cidade.


- Hey,  oh.. Porque vamos fazer isso mesmo?


Eu sabia que a pergunta chegaria em algum momento. Eu esperava ter mais respostas.


- Apenas... Whitney. – Era tudo que eu podia dizer. Kyle não perguntou mais nada. A Sociedade Histórica de Preservação de Drisking ficava na parte de trás do prédio e tivemos que percorrer a loja de antiguidades com a proprietária. Dranger nos olhou cautelosamente. No final de um pequeno corredor, encontramos uma pequena sala com duas mesas juntas. Uma estava vazia e a outra estava empilhada em livros e pastas de papel solto. Nós podíamos ouvir alguém digitando atrás das pilhas.


Limpei a minha garganta com um “Olá?”. Uma pequena mulher apareceu atrás da escrivaninha e eu a reconheci da 5ª série.


- Olá? Como posso ajudar vocês meninos? – Ela perguntou, saindo para nos cumprimentar.


- Hum, sim, eu tenho algumas perguntas sobre a história de Drinking.


- Oh, ótimo! Isso é para algum relatório de fim de ano? Podem se sentar meninos. – Ela apontou para cadeira vazia. Eu balancei a cabeça para Kyle e ele sentou-se parecendo desconfortável.


- Sim, é um ensaio que temos que escrever. Hey, eu acho que você fez um palestra para nós sete anos atrás, na escola.


- Oh sim! Eu dou esta palestra todos os anos com o Sr. Prescott – Ela sorriu.


- Verdade, foi você e outro cara também, um careca! – Disse Kyle, mexendo-se desconfortavelmente na cadeira de madeira.


- Sim, esse era meui noivo, Wyatt Dowding. Ele morreu alguns anos atrás.


- oh – Disse Kyle.


- Então, oh, senhorita, senhorita.


- Scanlon. Mas você pode me chamar de Kathryn – Disse ela.


- Kathryn – eu tentei repetir. Eu odiava chamar adultos pelos seus primeiros nomes. – Hum, nós queremos saber sobre as crianças McCaskey.


- Oh – Disse Kathryn balançando a cabeça – Uma parte obscura da história, mas ainda sim a história.


- Sim, então quando isso aconteceu?


- E quando eles morreram? – Acrescentou Kyle.


- Bem, eles não morreram. Quero dizer, eles certamente morreram nas minas, mas seus corpos nunca foram encontrados, então não sabíamos a resposta para isso. Eu poderia supor que foi por desidratação, fome ou a exaustão os mataram. E para aa seguna pergunta, foi em... 1953 se não me falha memoria.


- E as minas fecharam naquele ano?


- Bem, na verdade as minas fecharam oficialmente no ano seguinte. Houve um disputa legal entre a cidade e a família Prescott que queria manter as minas até que os corpos fossem encontrados. A cidade vendeu e as minas foram condenadas.


- Espere, porque os Prescott se importavam?


- Você não quer escrever isso? – Perguntou Kathrynn.


Kyle bateu duas vezes com os dedos na cabeça. Kathryn deu os ombros e continuou.


- Bem a família Prescott e McCaskey eravam intimamente relacionados. Tom Prescott tinha uma equipe de mineradores desempregados que desciam nas minas e procuravam os corpos. A cidade estava farta disso, a montanha era instável e eles não queriam mais mortes. As minas haviam sido abandonadas anos atrás e eram estruturalmente inseguras. Depois que a cidade baniu as equipes de busca das minas, os membros da família Prescott começaram a entrar lá por conta própria. Finalmente a cidade teve o suficiente para que as minas fossem desmoronadas.


- Com bombas?  - Perguntou Kyle.


- Bem, com explosivos. E foi isso que levou ao “incidente”. A essa altura, as minas não eram mais lucrativas há alguns anos e a cidade estava bastante quebrada. Eles acidentalmente invadiram o lençol freático de Drisking e eles despejaram uma pequena empresa respeitável para demolir as minas; A cidade endividou, tentando purificar a água do lodo e do minério de ferro. Não foi até dois anos depois eu as coisas começaram a melhorar, graças a Prescott que realmente revitalizou Drisking.


O celular de Kyle começou a tocar e ele tirou do bolso – É a Kimber, ela quer que nos vamos encontra-la.


- Ah, obrigado Senhorita Scanlon, quero dizer, Kathryn.

- Claro! Se você tiver outras duvidas, sinta-se livre para passar por aqui. Estamos quase sempre abertos durante o dia. Oh, ou você poderia me mandar um e-mail. – Ela enfiou a mão no bolso da jaqueta e tirou um cartão de visitas. Estava enrugado e tinha uma mancha empoeirada.

- Obrigado.


--


- Então, o que você acha? – Perguntou Kyle quando entramos no carro.


- Eu não sei, é estranho não é? Quero dizer, porque os Prescott se importaria com a cidade depois que eles recusaram ajuda-los a encontrar sua família?


- Talvez eles tenham perdoado e esquecido – Kyle deu os ombros.


- Jimmy Prescott parece um cara que perdoaria e esqueceria para você?


- Ugh... Não. E o pai dele é ainda pior.


- Exatamente, talvez devêssemos...


- Vire nessa rua Sam, Desculpe, Kimber ainda está de babá e está com os Amhurts – Quando paramos, Kimber estava no jardim da frente com dois garotos que estavam brincando na garagem. Ela estava segurando um bebe dormindo e acenando para nós. Eu estacionei na calçada e ela apresentou a duas crianças mais velhas. Eles deram “ola” timidamente depois correram para continuarem sua brincadeira.


Uma vez que eles foram deixados, nos dissemos tudo que tinha acontecido para Kimber enquanto ela escutava e balançava o bebê em seus braços.


- Sam está certo, isso não faz sentido. Mas porque estamos preocupados com algo que aconteceu décadas atrás?


- Whitney. – Disse Kyle, então eu não precisei. Um flash de surpresa cruzou o rosto de Kimber e ela caminhou até o cercadinho. Então ela caminhou de volta e me puxou para todos darmos um super abraço nada confortável e muito estranho. Quando ela me soltou, começou a andar pela calçada.


- Ok, então pensamos que Whitney de alguma forma esta envolvida com tudo isso, se você estiver certo, teremos que descobrir e resolver isso. Phil esta certo: Todo esses desaparecimentos da cidade é um grande quebra-cabeça; - Ela parou e olhou para nós – Precisamos ir a fonte de tudo se quisermos respostas.


- Sim, é uma péssima ideia – Kyle disse – Eu sei que ele gosta de sair no Hide-Away e ficar bêbado com ex-xerife Clery.


- Ah não Kyle. Não to falando do Kimmy, estou me referindo ao pai dele.


- Tom? Ele ficou tão louco que o mandaram para uma casa de repouso!


- Ele é quem deve saber da verdade, não é? Jimmy provavelmente não conhece metade da história de seu pai.


- Mas...


Enquanto Kyle e Kimber discutiam, observei as crianças se perseguirem em torno do jardim da frente. Parecia haver algo esculpido na casca da árvore, palavras, como na fortaleza Ambercot na árvore tripla. Eu estava muito longe para ler o que dizia.


- Ele te pegou, ele pegou você! – eu ouvi o mais novo gritar para seu irmão – O homem esfolado pegou você, agora você tem que morrer.


-na-na-ni-na-não , Peter, eu estava tocando a árvore.


- Você não estava! Você é um mentiroso! Um deles pegou você e agora você tem que ir junto com Cavalheiro Brilhante!


- Não eu não tenho!


- Kimber, o Josh está trapaceando.


Estremeci e me afastei deles.


- Onde que é essa casa de repouso? – Eu os interrompi – Está perto?


- Não é uma casa de repouso, está mais para um hospício – Kimber repreendeu – O boado que eu ouvi é que ele estava no Godlen Elm fica na cidade de Girardeau.


- Isso é uns 40 minutos de carro – Kyle disse e puxou o telefone – Vou verificar o horário para visitas nas terças-feiras. Sam, você trabalha amanhã?


- Eu trabalho todo os dias, mas vou dar um jeito de ir. – Prometi.


- Certo. Vamos combinar de sair depois da escola. 



O dia seguinte se arrastou como na ultima terça-feira do ano letivo. A maioria das pessoas falavam sobre o que fariam nas férias ou reclamava que um policial apareceu em suas casas para advertir a ir pra escola na ultima semana.


Quando a campainha final tocou às 3:30, peguei minha mochila e fui para meu carro. Kyle e Kimber já estavam me esperando.


A viagem levou mais tempo do que esperávamos porque me perdi em Gerardeau. A cidade era maio que Drisking e as ruas não tinham nenhum tipo de planejamento logico. No momento em que chegamos a Golden Elm, tínhamos apenas 20 minutos para o horário da visita encerrar.


- Estamos aqui para ver Thomas Prescott – Disse Kimber à enfermeira da recepção.


Nós a deixamos fazer a conversa porque ela tinha seu charme que colocava as pessoas em um clima amigável.


- O velho Tom? Uau, ele não recebe uma visita desde o Natal quando o filho dele apareceu. Assine aqui a folha de Check-in e pegue um adesivo de visitante.  Você é da família certo? Sabe onde é o quarto dele? - A enfermeira arqueou uma sobrancelha fina e desconfiada.


- Eu sinto muito, não sabemos – Kimber pediu desculpas – Minha mãe me pediu para checar meu tio-avô enquanto ela está fazendo Médicos sem Fronteiras. Eu deveria ter pedido algumas informações pra ela, mas você sabe, ela só tem alguns minutos para falar comigo durante as viagens.


- Ah, claro querida! Deixe-me arranjar alguém para te escoltar.


Uma arrumadeira nos levou ao quarto de Tom Prescott, que encontramos vazio. Ela apontou para o corredor e disse. – Ele gosta de ler no solário.


Nós andamos pelo corredor e encontramos um homem velho e magro sentado sozinho sussurrando  algo para si mesmo. Ele estava sentado em uma mesa em frente a um tabuleiro de gamão movendo peças de xadrez em torno dele.


- Tom Prescott? – Kimber disse, sorrindo.


Ele não olhou para cima e eu me perguntei se ele tinha escutado ela falar. Kimber respirou fundo para tentar novamente, mas o velho de repente bateu com o punho na mesa.


- Eu sou ele, Puta merda! Eu sou Sr. Thomas Prescott. Não me chame de Tom; os filhos das pessoas costumavam ter mais respeito.


- Eu sinto muito, Senhor – Kimber disse gentilmente quando se sentou na cadeira em frente a ele.


- Vocês crianças não tem respeito. Vocês sabem quem eu sou? Foi meu filho que permitiu isso a vocês. A mãe daquele moleque deveria ter dado umas surras nele, mas ela o mimava e agora ele esta pela minha cidade espalhando vulgaridade e desrespeito.


- Nossas desculpas, Sr. Prescott, nunca pretendemos ser desrespeitosos. Nós te admiramos muito. Você é o homem que construiu nossa cidade no que ela é hoje! Todos sabem disso. Drisking estava sofrendo e a cidade estava morrendo e então você consertou. Nós sabemos disso.


- Eu fiz o que tinha que fazer. – O velho resmungou – Era a minha cidade. Ainda é. Quem é você garotinha, para entrar aqui e sugerir o contrario?


- Ah, não, não foi isso que eu disse – Kimber mudou de tática – E quanto a quem somos, somos filho da Maria McCaskey. Você se lembra dos McCaskeys?


-Hã, então você é neta da Ainda. Isso explica porque você não está lá.


Nós trocamos olhares intrigados.


- Estamos aqui. Sr. Prescott. – Disse Kimber.


- Você sabe o que eu quis dizer mocinha! Todos eles sabem. Eles sabem que eu salvei a cidade, essa é minha cidade. Claro que eles iam me deixar fazer o que eu quisesse enquanto o dinheiro continuasse chegando. É por isso que é minha cidade.


- O dinheiro ainda está chegando? – Kimber testou.


- Bem, você está aqui não está? Eles não gostaram, mas aceitaram o dinheiro. Eles sabiam. Nem todos, mas eles suspeitavam de alguns. E eles devem ter ficado bem com isso porque continuaram elegendo Clery com Xerife e continuaram aceitando o dinheiro.


Prescott pegou um peão e passou os dedos sobre ele enquanto falava:


- É apenas um pó, você sabe, tão despretensioso. Um pó fino e suave. O pó não sabe o que é, não sabe que é ruim. São as pessoas que dizem que ruim. Mas isso precisava ser feito. Você sabe disso, Ainda, você sabe o que nós tivemos que fazer. – Kimber o enganou – Eu sei. Nós tivemos que fazer isso, mas é seu filho. Eu não acho que ele está fazendo certo.


- Bem, Claro que ele não está! – O idoso Prescott bateu com punho na mesa novamente e duas gralhas caíram no chão – Eles era meus! Ele os tirou de mim. Ele pensou que poderia fazer melhor, mas ele pegou o que era meu e arruinou meu legado. Décadas de trabalho e agora tudo é bancado pelo meu pó. Meu império foi esmigalhado!


- E os homens esfolados? – Eu perguntei, apanhado no momento.


- Do que você está falando garoto? – ele rosnou.


- E a casa da árvore! A árvore tripla, o que é isso? Par que serve?


- Árvore tripla? Eu nunca autorizei isso. Nós lucramos o triplo do preço, mas foi apenas por um curto período quando as coisas estavam apertadas. Nós certamente nunca cobramos o triplo, isso é um péssimo negocio.


- Onde fica Borras.


- Meu filho idiota está fazendo isso? Ele está oferecendo o triplo por eles? Ele está arruinando minha cidade, não é? Porra Jimmy, chamem ele aqui! Ainda, coloque meu filho no telefone, diga a Jimmy que quero falar com ele! Diga a ele que eles ainda são meus! Ainda! Ainda, coloque o Jimmy no telefone!


Kimber deu um pulo e Kyle a empurrou para trás quando o velho se levantou, alto e imponente. Nós estávamos voltando para a porta quando o enfermeiro entrou com um olhar de desaprovação no rosto e nos enxotou. Muito depois de termos chegado ao saguão, ainda podíamos ouvir Thomas Prescott gritando por seu filho.


A volta para casa estava em silêncio e tentava encaixar as peças do quebra cabeça. Os homens esfolado, A árvore tripla, O homem brilhando e o pó. Essas coisas pareciam ter sidas retiradas cegamente de algo intangível, aleatórias e sem sentido. O véu sobre meus olhos era grosso e pesado, mas eu estava mais perto de Borrasca do que nunca estive antes. Eu podia sentir tudo ao meu redor, mas ainda não conseguia ver. Eu quase podia tocá-lo, mas ainda sem conseguir compreender.


De repente, percebi que Kyle estava saindo da estrada e saí da minha contemplação. Ele colocou o carro no acostamento e se virou para olhar para mim no banco de trás.


- Tem certeza que isso é somente sobre Whitney, Sam?


- Sim.


Kimber nos observou com os olhos preocupados.


- Porque você ainda pensa nisso? Quero dizer, os policiais confirmaram que Whitney fugiu.


- Eu não acredito neles! – Eu disse com os dentes cerrados.


- Olha Sam, estamos nos aprofundando nisso e estarei com você a cada passo, mas tenho que saber a razão por estarmos fazendo isso. Envolvemos a Kimber também... Eu tenho que saber que isso é importante para você pelas razões certas e não apenas uma... Obsessão.


Eu olhei pela janela e percebi que ele parou perto do Trilha da Orla Leste de Minério de Prescott. Ele estava certo em se preocupar e ainda mais sendo protetor da Kimber. Kyle estava pensando nisso e eu também: O pó... E se na verdade, Borrasca tivesse algum relacionamento com quantidades massivas de drogas, eu poderia envolver meus amigos nisso? Esta luta não era deles. Eu amava essas pessoas, poderia realmente arriscar a segurança deles por minhas próprias curiosidades e vendetas? Mas, por mais que eu desejasse poder deixa-los ir, sabia que precisava deles.


- Eu tenho que saber o que realmente aconteceu com Whitney – Eu sussurrei.


Kyle se virou sem dizer uma palavra e Kimber colocou a mão na minha. Puxei minha mão e cruzei meus braços e imediatamente me desculpei. Kimber apenas sorriu de um jeito indulgente.


Kyle suspirou – Sam...


Ele foi interrompido pela vibração do telefone de Kimber. Ela correu para o celular para silencia-lo, mas quando viu o nome na tela, ela rapidamente atendeu.


- Alô? Papai?


......


- O que? Espere, o que você quer dizer?


....


- Papai?


...


- Espere, fale mais devagar. Alô?


Ela afastou o telefone do ouvido


- Aconteceu algo com minha mãe, ela está no hospital – Lágrimas encheram os olhos verdes e suaves de Kimber.


Kyle ligou o carro e guinchou no acostamento. Fizemos a viagem de dez quilômetros até o hospital em poucos minutos, que era criminalmente acima da velocidade nas ruas da cidade. Kyle parou o carro na entrada de emergência e Kimber e eu corremos para dentro.


Um policial estava lá esperando. Ele se recusou a responder às perguntas desesperadas de Kimber enquanto nos levava ao pai dela. Quando o policial abriu as portas, vi meu pai ao lado do pai de Kimber e me preparei para o pior.


O pai de Kimber a levou em um direção e meu pai me levou na outra. Antes dele me dizer uma palavra,  vi Kimber desabar no chão do outro lado da sala. Eu olhei para o meu pai impotente e ele me deu um aceno simpático e me puxou para um abraço.


Nós nos sentamos em um canto e eu encarei minhas mãos enquanto ele silenciosamente explicava que a Senhora Destaro, tinha ido fazer comprar por volta da uma hora, Voltou para casa, Guardou as compras, Preparou uma lasanha e uma torta de carne. Então entrou no carro, dirigiu-se até o hospital, estacionou na sombra, subiu os degraus de sete andares até o telhado e cometeu suicídio saltando lá de cima. Ela viveu o suficiente para pedir desculpas ao paramédico que a encontrou.


Eu observei Kimber desmoronar no chão enquanto o corpo de sua mãe lentamente esfriava no necrotério um andar abaixo de nós.


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